FORMAÇÃO HISTÓRICA DO RIO GRANDE DO SUL
1ª
PARTE
O
Rio Grande do Sul tem sua formação histórica diferenciada dos demais estados da
federação brasileira.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral aportou no Brasil,
porém, desde 1494, Portugal e Espanha havia firmado o Tratado de Tordesilhas.
Através do tratado, imaginou-se uma linha, que passaria a oeste das ilhas de
Cabo Verde e que serviria de limite às concessões dos dois países. Essa linha
ficou conhecida como Meridiano de Tordesilhas, a qual dividia, entre eles, as
maiores potências em navegação do mundo, naquela época, as terras já
encontradas e as que viessem a ser encontradas. No acordo constou que as terras
situadas a oeste do meridiano pertenceriam à Espanha e as situadas a leste, a
Portugal. Considerando o atual território brasileiro, o meridiano atravessava o
Brasil de norte a sul, passando pelas cidades de Belém (Pará) e Laguna (Santa
Catarina). Portanto, as terras que hoje formam o nosso Estado pertenceram à
Espanha até serem conquistadas pelos portugueses e incorporadas ao território
brasileiro nos séculos XVII e XVIII, fazendo uma das grandes diferenças entre
os acontecimentos históricos, que deram origem ao Rio Grande do Sul.
Mais de um século se passou, sem que acontecimentos
registrassem o início a história do Rio Grande do Sul. Vejamos:
â 1492 –
Colombo descobriu a América, chegando pelas ilhas da América Central.
â 1500 – A
expedição chefiada por Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, desembarcando em
Porto Seguro, no litoral baiano.
â 1501 – As
caravelas portuguesas foram as primeiras a percorrerem a costa brasileira,
seguida pelas espanholas, porém, sem registros de desembarque, uma vez que as
praias eram perigosas e não proporcionavam condições para portos naturais.
â 1531 –
Navegantes portugueses comandados por Martim Afonso de Souza e Pero Lopes,
navegaram pelo sul sem desembarcar nas praias gaúchas, batizando com o nome de
Rio Grande de São Pedro a barra por onde, mais tarde, permitiu a passagem de
navios do Oceano Atlântico para a Laguna dos Patos.
â 1580 a
1640 – Devido ao casamento do rei da Espanha com princesa portuguesa e do rei
de Portugal com princesa espanhola, Portugal passou a ser governado pelo rei da
Espanha, Felipe II, herdeiro do trono português, por ser neto de D. Manuel, “O
Venturoso”. Portugal e todas as suas colônias passaram aos domínios da Espanha,
o que a história registra como “União das Coroas Ibérica”, tendo como principal
conseqüência foi o esquecimento do Tratado de Tordesilhas.
PROVÍNCIA DO TAPE
Durante o período
colonial, as terras sul-rio-grandenses foram, aos poucos, sendo ocupadas em
nome da Coroa de Espanha, porém, jamais os portugueses demonstraram
desinteresse em tomar posse das terras.
1605 – A
vinda dos padres jesuítas João Lobato e Jerônimo Rodrigues iniciou a ação jesuítica
a serviço da Coroa de Portugal, no litoral do atual Rio Grande do Sul.
1620 – A
chegando dos primeiros padres jesuítas da Companhia de Jesus, Roque Gonzalez,
Afonso Rodrigues e Juan Del Castilhos, o que a historiografia registra como
“chegada oficial do homem branco” ao território gaúcho marcou o inicio da ação
jesuítica a serviço da Coroa de Espanha, no interior do atual Rio Grande do
Sul. Os jesuítas vieram com o propósito de pacificar e catequizar os índios e
tomar posse em nome do Coroa de Espanha.
1626 – O
padre jesuíta Roque Gonzalez, nascido no Paraguai, atravessou o rio Uruguai e
fundou o povo de São Nicolau, o “Berço da Civilização”. Sabe-se que, ao visitar
o rio Guaíba (Iguaí), o padre Roque encontrou, na região onde hoje está a
capital dos gaúchos, Porto Alegre, navios portugueses, vindos pelo mar,
forçando a barra de Rio Grande e atravessando a Laguna dos Patos, para
comercializar com os índios.
1626 a
1638 – É marcada pela fase reducional, primeira ação dos jesuítas da Companhia
de Jesus, em nosso estado, fundando, no oeste do atual Rio Grande do Sul, 18
povoados registrados como “Reduções do Tape”. Eram aldeamentos indígenas
dirigidos pelos padres jesuítas, com o objetivo de educar os índios à moda
européia e convertê-los à fé católica.
1628 – É
marcado pela morte dos padres jesuítas Roque Gonzalez e Afonso Rodrigues na
redução de Caaró, fundada pelo próprio padre Roque; Juan Del Castilhos, na
redução de Assunção do Ijuí, na região de Pirapó. A morte dos jesuítas foi
ordenada pelo cacique Nheçu, que rebelou os índios porque os padres condenavam
a poligamia e a antropofagia. Nheçu dizia que as epidemias trazidas pelos
brancos eram provenientes do batismo.
1634 –Os
padres jesuítas Cristóvão de Mendonza e Romero introduziram o gado nas Missões
orientais. Os padres conduziram o gado pelo “Potreiro Grande das Reduções”
situado entre o Mato Castelhano e o Mato Português, em terras entre os atuais
municípios de Passo Fundo e Lagoa Vermelha. Desta forma, inauguraram a criação
e o povoamento gadeiro da imensa campina, gigantesca iniciativa econômica para
as Missões e para o futuro do nosso Estado e do Brasil, justificando, mais
tarde, o surgimento do gaúcho. O Padre Cristóvão ficou conhecido entre os
índios como “Pai Quirito”.
1635 – Foi
marcado pela morte do padre Cristóvão de Mendonça, o “Herói do Ibiá”, na região
do Ibiá.
1636 a
1641 – Em busca do gado e mão de obra escrava, teve a ação dos bandeirantes no
Tape: Raposo Tavares (1636), André Fernandes ou Francisco Bueno (1637); Fernão
Dias Paes (1637 e 1638) e Domingos Cordeiros (1638). Na ocasião, além do gado,
mais de 300 mil índios foram preados.
1639 – O
bandeirante Domingos Cordeiros é derrotado por Nicolau Niengüiru, em
Caaçapaguaçu, atual terras do município de Entre-Ijuis. Movidos pela ação violenta
dos bandeirantes, os jesuítas e os índios fugiram da Província do Tape.
1641 – Com
o término da “União Ibérica”, os missioneiros conseguiram armas de fogo do
governo espanhol. E os índios, treinados e comandados pelos jesuítas,
derrotaram a Bandeira de Jerônimo Pedroso, na batalha fluvial de Mbororé,
expulsando definitivamente os bandeirantes da região do Tape.
Devido aos constantes
ataques dos bandeirantes na região do Tape, os jesuítas e seus índios reduzidos
transmigraram para a outra margem do rio Uruguai, deixando o gado em solo
rio-grandense. Parte do gado, que por acaso escapou da ação dos bandeirantes,
multiplicou-se às leis da natureza, povoando os campos entre os rios Jacuí e
Negro, com boa pastagem e bom aguado. Esse gado passou a criar-se solto, sendo
conhecido por gado xucro ou bravio, o “gado chimarrão” e a região ficou
conhecida por “Vacaria do Mar”. Essa Vacaria despertou a cobiça dos
luso-brasileiros, que passavam pela região, bem como dos índios minuanos,
aliados dos portugueses. Em 1739, não tinha mais gado nesta área.
1650 –
iniciou a fase da preação do gado xucro, onde os luso-brasileiros se
interessavam pela extração de couro. Essa préia do gado alçado movimentou o
extremo sul, atraindo as pessoas para a região, a qual passava a ser conhecida
pela sua riqueza pecuária. Com o término da União Ibérica e a conseqüente
retomada do Tratado de Tordesilhas, a Vacaria do Mar estava localizada em
terras da Espanha, porém as terras eram administradas pelos padres da Companhia
de Jesus.
Espanhóis e portugueses
descobriram a Vacaria do Mar e passaram a retirar tropas para levar às feiras
de Itu e Sorocaba, além de abater os animais para tirar o couro e o sebo.
1680 –
Portugal resolveu marcar presença na região sul para enfrentar o expansionismo
espanhol. As descobertas de ouro em Curitiba e Paranaguá incentivaram o plano
de alargar as fronteiras do reino de Portugal até o rio da Prata. D. Manuel
Lobo aportou junto à ilha de São Gabriel no rio da Prata (enfrente a Buenos
Aires, na República do Uruguai), para fundar a Colônia do Santíssimo
Sacramento. Sua fundação serviria para estabelecer um forte militar na região,
criar importante entreposto comercial no rio da Prata, introduzindo negros
escravos na região e favorecendo a comercialização de produtos, conforme as
instruções de D. Manuel Lobo. A Espanha ocupou a Colônia do Sacramento por
várias vezes. Esta edificação também foi decisiva para o surgimento do gaúcho.
Atualmente, sua história está junto a cidade de Colônia, a mais antiga da República
Oriental do Uruguai.
1682 – Os
bandeirantes estando ocupados com o ouro e as pedras preciosas das Minas
Gerais, esqueceram os índios e as “Reduções do Tape”. Por isso, os jesuítas
espanhóis voltaram ao solo gaúcho para dar início a segunda fase, ou seja fundar os “Sete Povos das Missões”.
1682 a
1701 – os jesuítas fundaram 8 povos em território gaúcho, dos quais 7
prosperaram e constituíram “Os Sete Povos das Missões”. A seguir:
§
São Francisco de Borja: fundado em 1682,
foi o primeiro. Antônio Augusto Fagundes refere-se a ele como “o mais antigo
núcleo urbano do Rio Grande do Sul”. Hoje é sede do município de São Borja.
§
São
Nicolau: fundado em 1626, na 1ª fase dos jesuítas, pelo padre Roque
Gonzalez, morto pelos índios. Devido aos constantes ataques dos bandeirantes,
os índios e os jesuítas abandonaram o local. Foi reerguido, em 1687, na 2ª fase
missioneira, no mesmo local e batizado com o mesmo nome.
§
São Luiz Gonzaga: erguido em 1690, hoje é
sede do município do mesmo nome.
§
São Miguel Arcanjo – fundado em 1690, foi
o povoado que mais prosperou, por isso foi a “capital dos Sete Povos”. Aqui,
surgiu a primeira tipografia e o primeiro livro do Brasil. Suas ruínas
encontram-se na atual cidade de São Miguel das Missões.
§
São Lourenço Mártir: fundado em 1697, com
índios Tape e Guarani, atualmente encontra-se na área do município de São Luiz
Gonzaga.
§
Santo Ângelo Custódio: fundado em 1707,
com índios Tape e Guarani, é sede do município do mesmo nome.
§
São João Batista: fundado em 1706, pelo
mais genial dos missionários, o Padre Antônio Sepp, que era músico e com sólida
instrução de música vocal e instrumental. Neste povoado, havia artistas em
todas as profissões e todos orientados pelo Padre Sepp, que chegou a criar uma
orquestra, cujos instrumentos foram todos feitos por ele e seus discípulos. Por
ser Arquiteto, o padre construiu a igreja do povoado, que nada ficou devendo às
igrejas bávaras. Extraiu o primeiro ferro das Missões, fazendo instrumentos de
toda a espécie, bem como os sinos da igreja de seu povo. Sua obra-prima foi o
relógio da torre da igreja que, ao dar as horas, fazia desfilar, pelo
mostrador, as imagens dos 12 apóstolos.
§
Jesus Maria de Guenoas: fundado em 1682,
juntamente com São Francisco de Borja, aldeando índios Guenoas, que não eram
Tape ou Guarani, mas os aguerridos Mbaias e por isso não prosperou.
Com
o propósito de retirar a gadaria do caminho dos portugueses e espanhóis, os
jesuítas dos “Sete Povos” conduziram-nos para os campos do Planalto, no
nordeste do Estado, na região dos Pinhais, surgindo assim a “Vacaria dos
Pinhais” ou “Campos da Vacaria”, em terras dos atuais municípios de Vacaria,
Bom Jesus....
Com a fundação da Colônia do Sacramento e o retorno
dos jesuítas ao local das suas antigas reduções, ficou evidenciado que as
nações Ibéricas (Portugal e Espanha) estavam dispostas em conquistar, palmo a
palmo, as áreas próximas ao estuário do Prata, uma vez que o Rio Grande possuía
um bem econômico que lhes valessem esforços de exploração. Os luso-portugueses
passaram a reivindicar a região considerada “Terra de Ninguém”, o que não era
uma verdade, pois a região estava sob o governo de Buenos Aires.
1686 –
Para defender e apoiar a Colônia do Santíssimo Sacramento, facilitando o acesso
até o Rio de Janeiro, Francisco de Brito Peixoto e seu filho Francisco fundou
Laguna, no litoral catarinense. A partir de então, o litoral rio-grandense
passou a ser visitada constantemente pelos portugueses, que queriam abrir
caminho entre Laguna e Sacramento, transformando o Rio Grande numa grande região
de passagem.
No início do século
XVIII, com a descoberta de jazidas de ouro em Minas Gerais, a região sul passou
a interessar ainda mais aos portugueses. Nas estâncias, criava-se gado bovino,
para a produção de carne e couro, além de animais utilizados para tração ou
transporte (burros e cavalos), que iriam abastecer a região mineradora. Foi
assim que surgiu o tropeiro, indivíduo responsável pelo transporte do gado.
1725 a
1729 – Nas proximidades da atual cidade de São José do Norte, em 1725, João de
Magalhães comandou uma guarda na margem norte do canal de Rio Grande, com a
finalidade de cobrar pedágio, fiscalizar a passagem de gado retirado da Vacaria
dos Pinhais, além de impedir a passagem de desertores da Colônia. O tropeiro
Cristóvão Pereira de Abreu estabeleceu o caminho das tropas e currais ao longo
do litoral.
1727 – o
sargento-mor Francisco de Souza Faria abriu uma estrada ligando “Morro dos
Conventos”, por onde as tropas atingiam facilmente os caminhos de Lages,
Curitiba e Sorocaba, com melhores pastagens e facilidade de marcha pelo divisor
de águas, sem necessidades de cruzar os rios caudalosos.
Procurando novas terras
para expandir a criação de gado, os lagunenses liderados por João de Magalhães,
avançaram e ocuparam os Campos de Viamão (como era conhecido o Rio Grande na
época). Desta forma teve início a apropriação militar da terra, através da
doação de sesmarias, que eram lotes de terras incultas ou abandonadas, que os
reis de Portugal cediam a quem se dispusesse a cultivá-las.
1732 –
Manoel Gonçalves Ribeiro e Francisco Xavier Ribeiro receberam, em Tramandaí, as
duas primeiras sesmarias em terras do nosso Estado. Com a rota de tropas
afastadas de Laguna, os lagunenses e tropeiros buscaram o caminho do gado,
estabelecendo-se com currais e sesmarias ao sul do rio Mampituba, nos chamados
“Campos de Viamão”. Das sesmarias surgiram as estâncias povoadas com gado
retirado da Vacaria do Mar e das estâncias missioneiras. A criação era
extensiva, com uma pequena lavoura de milho, mandioca, abóbora e feijão para a
alimentação da família e dos peões. A estância era familiar, comunal,
patriarcal e militar, concedida além da linha divisória, empurrando pouco a
pouco a fronteira com a Espanha.
1732 –
antes da fundação de Rio grande, Jerônimo de Ornelas Menezes e Vasconcelos
ganhou uma grande extensão de terras às margens do Guaíba, que pertencia a
Viamão, um dos principais povoados do Rio Grande do Sul. Nessas sesmarias,
Jerônimo de Ornelas organizou uma estância, cuja sede ficava no Morro Santana,
atual bairro de Porto Alegre. Para servir ao comércio de Viamão, foi construído
um pequeno porto sobre o gauíba: o porto de Viamão. Marinheiros, comerciantes e
outras pessoas fixaram-se junto ao porto. A população cresceu e o lugar pasou a
ser chamado de “Porto do Dorneles”
COMANDÂNCIA
MILITAR DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE
1735 a
1737 – Castelhanos sitiaram a Colônia do Santíssimo Sacramento.
O governo português
ordenou a construção de uma área fortificada no Rio Grande do Sul, para
proteger a Colônia do Sacramento dos freqüentes ataques espanhóis, que poderiam
prejudicar o comércio de gado para a zona mineira. Os portugueses decidiram
encurtar distâncias, unir mais os fortes, Sacramento e Laguna, facilitando a
comunicação. Por isso, vieram a ocupar o extremo sul do Brasil. D. João V
destacou José da Silva Pais, hábil engenheiro, militar curtido na guerra,
senhor de apreciável cultura humanística, recebeu instruções para fundar uma
povoação no extremo sul, em Montevidéu, Maldonado ou Rio Grande. Enquanto
aparelhava os navios no Rio de Janeiro e Santos, Silva Pais ordenou ao tropeiro
Cristóvão Pereira de Abreu, que preparasse a área ao sul do canal de Rio Grande
e aguardasse com gado para alimentação dos pioneiros.
1736 – Dos
Campos de Viamão até às margens do Guaíba, as terras estavam ocupadas por
estâncias, que também criavam mulas para as outras capitanias. As tropas de
mula eram o principal meio de transporte de mercadorias no interior do Brasil,
no século XVIII.
1737 –Para
oficializar o idealizado em 1735, foi edificado o Forte Jesus-Maria-José junto
ao canal de Rio Grande, primeira fundação oficial, que selou definitivamente a
ocupação portuguesa do solo gaúcho, dando origem a atual cidade de Rio Grande.
Neste mesmo ano, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Paris, pelo qual
ficava assegurada a paz entre ambas potências. Mesmo assim, Gomes Freire mandou
organizar um regimento de Dragões, uma tropa de cavalaria com 600 homens, com
sede em Rio Grande.
1738 – Com
o objetivo de auxiliar a Colônia do Santíssimo Sacramento, povoar a região e
regular as relações entre os diferentes elementos povoadores, foi criada a
“Comandância Militar” do Rio Grande de São Pedro subordinada ao Rio de Janeiro,
iniciando-se assim a vida administrativa do nosso Estado. O primeiro Comandante
Militar foi o próprio Brigadeiro José da Silva Paes. A Comandância Militar, que
ficou constituída pela vila de Rio Grande (conjunto de casas cobertas de
palhas, moradias de famílias de militares, com seus escravos) pelos presídios
dos fortes (presídios eram as guarnições que ficavam nos fortes)
Jesus-Maria-José (Rio Grande), de Santana (mais ao sul, numa linha de
trincheiras que cortava a península) e de São Miguel (guarnecia o extremo sul
da Lagoa Mirim, hoje em Departamento de Rocha, na Rep. do Uruguai), pelas
guardas (postos de pedágio, cobrança de impostos sobre as tropas de gado, além
de prender desertores) distribuídas nos passos, pelas estâncias particulares,
pela Estância Real do Bojuru e pelas datas (lotes de terras distribuídos pelo
capitão da Capitania, doados às famílias que vinham povoar a Comandância de Rio
Grande e destinados à agricultura). O pequeno comércio atendia unicamente aos
habitantes da vila, pois o porto era militar, não podendo entrar navios
comerciais até 1763.
1741 – Foi
fundada a Capela Grande de Viamão, que deu origem a atual cidade de Viamão, no
alto da Estância Grande, construída por Francisco Carvalho da Cunha, sendo
elevada à categoria de sede de Freguesia em 1747. Com a invasão dos espanhóis
em Rio Grande, Viamão passou a ser capital do Rio grande do sul, de 1763 a
1773.
â 1750 - O
povoado ao redor do forte Jesus-Maria-José cresceu e foi elevado à vila, com o
nome de Vila de Rio Grande.
As excursões paulistas, as Missões e o
povoamento do litoral criaram novas situações no território rio-grandense,
fazendo-se necessário e urgente a revisão nos domínios ibéricos na porção
meridional do continente americano.
Por isso, em 1750, os
representantes das duas Coroas reuniram-se em Madrid, assinando o Tratado de
valor inestimável não só ao Rio Grande do sul, mas ao Brasil, pois definia
juridicamente a configuração geográfica do país, como ao Direto Internacional.
O brasileiro Alexandre de Gusmão, secretário do Conselho Ultramarino, orientou
o tratado, que pela primeira vez no mundo adotou os limites naturais como
fronteiras e o reconhecimento do “uti Possi tis”, em que cada patê ficaria com
o território que estivesse ocupado.
Pelo Tratado, a linha
divisória partiria de Castilho Grande (ao norte de Maldonado), pelas vertentes
da lagoa Mirim e dos rios Santa Lúcia e Negro, atingindo o rio Ibicuí, por cujo
curso seguiria até alcançar as águas do rio Uruguai.
Conforme o tratado,
Portugal trocou a Colônia do Sacramento, uma cidade na fronteira com a Espanha
e as Filipinas pelos Sete Povos das Missões, o oeste de Santa Catarina, o oeste
do Paraná, Mato Grosso e Amazônia. Uma comissão mista demarcaria os limites
definitivos. O tratado estipulava que os índios deveriam abandonar os Sete
Povos, isto para garantir que não haveria revoltas dos índios contra Portugal.
Gomes Freire de Andrade planejou instalar casais açorianos em lugar dos índios
missioneiros.
No início, os portugueses
ocuparam apenas o litoral, mas em 1752, seus domínios se estendiam até o rio
Pardo, afluente do rio Jacuí. Nossas terras iam deixando de ser apenas zona de
passagem, para se transformarem em zona de extremidade integrada ao Brasil.
1750 /
1752 – A corte de Portugal desejou criar uma classe média agrícola inexistente
no Brasil. Com a assinatura do Tratado de Madrid, Gomes Freire de Andrade
providenciou logo para que parte dos casais açorianos, que viesse para Santa
Catarina, fosse enviada para o Rio Grande do Sul, a fim de ocupar as terras dos
“Sete Povos das Missões”, que deveriam ser abandonadas pelos índios e jesuítas.
Por volta de 1750, a região sul passou a receber imigrantes do arquipélago dos
Açores (Portugal).
1752 - Os
casais açorianos chegam ao Rio Grande do Sul, e por ordem do governo português,
muitos casais açorianos desembarcaram no Porto do Dorneles, por volta de 1752,
dando início à colonização do nosso Estado. Alguns deles fixaram-se na região
próxima ao Guaíba, onde fica a rua da Praia (atual Andradas), local onde
organizaram um povoado (atual bairro Gasômetro) e construíram uma capela em
homenagem a São Francisco. Com a chegada dos açorianos, o porto do Dorneles
passou a se chamar Porto dos Casais. A Guerra Guaranítica atrapalhou os planos
de Gomes Freire e os açorianos recém-chegados viram-se abandonados à própria
sorte, ao longo da rota Rio Grande – Missões. A lentidão na distribuição das
datas (lotes agrícolas), as rebeliões dos índios, as invasões castelhanas e a
deficiência de recursos da Metrópole para um empreendimento de tal natureza,
formaram as contas do colar de amarguras dos infelizes açorianos, arrastando-se
por mais de vinte anos de desilusões, fazendo com que vários deles abandonassem
a agricultura e se dirigem a Montevidéu tornaram-se prósperos fazendeiros. A
sorte somente melhoraria em 1764, inaugurando-se em taquari o primeiro núcleo
oficial, cabendo ao capitão de Engenheiros Alexandre José Montanha a demarcação
dos lotes, sete anos depois.
Os açorianos
espalharam-se pelo litoral, depressão central, organizando as povoações de
Torres,Tramandaí, Triunfo, Tavares, Pelotas, Viamão, Santo Antônio da Patrulha,
Guaíba, Mostardas, Gravataí; atingindo o rio Jacuí, fundaram Porto Alegre, Rio
Pardo, expandindo-se pelas localidades adjacentes. Os açorianos foram os
responsáveis pela introdução do cultivo de trigo na Colônia.
1752 –
Cumprindo ordens de Gomes Freire de Andrade, Cristóvão Pereira de Abreu fundou
o forte Jesus-Maria-José do Rio Pardo, que deu origem a atual cidade de Rio
Pardo, como ponto avançado para alcançar as Missões e para garantir a
demarcação do tratado.
A comissão mista deu
inicio a demarcação do Tratado de Madrid. O comissário português foi o
governador do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, o Conde de Bodadela,
enquanto que o representante espanhol foi o Marques de Valdelírios que, depois
de darem início aos trabalhos sem incidentes, de sorte que se recolheram para a
Colônia de Sacramento e Montevidéu respectivamente. O primeiro incidente
aconteceu no momento em que os demarcadores chegaram no sítio de Santa Tecla,
em Bagé, estância de São Miguel. Os índios chefiados pelo alferes real do povo
de São Miguel, Sepé Tiaraju, opuseram-se ao avanço dos portugueses e espanhóis.
Sepé Tiaraju lhes teria dito: “Esta terra é nossa, a recebemos de Deus e de São
Miguel”. Os trabalhos foram suspensos, só prosseguindo mediante a força.
1754 a 1756
– Tem início a Guerra Guaranítica com ações iniciadas pelos índios que, por
duas vezes, atacaram o Forte de Jesus-Maria-José do Rio Pardo, que deu origem a
atual cidade de Rio Pardo. Em 29 de abril de 1754, os índios comandados por
Sepé Tiaraju atacam novamente. As forças lusas eram chefiadas por Francisco
Pinto Bandeira, que foi ferido, e pelo rio-grandense Tenente-coronel Tomas Luis
Osório. Sepé caiu prisioneiro, fugindo depois, graças a sua astúcia e a
condescendência de Pinto Bandeira.
A 7 de fevereiro morre em
uma escaramuça o índio Sepé Tiaraju, junto à Sanga da Bica (hoje perímetro
urbano de São Gabriel) morte pelas forças espanholas e portuguesas. Três dias
mais tarde ocorre o massacre de Caiboaté (ainda no município de São Gabriel),
onde em apenas uma hora e 10 minutos os exércitos de Espanha e Portugal
massacram quase 1500 índios e tiveram apenas 4 baixas. Em Caiboaté, foi vencida
a resistência missioneira definitivamente. Ao abandonarem as Missões, os
jesuítas carregaram o que puderam e incendiaram lavouras, casas e até igrejas.
A Guerra Guaranítica
destruiu moralmente as Missões, abalando a confiança dos índios nos jesuítas e
nas autoridades, destruiu estâncias, ervais, deu aos portugueses a margem
esquerda do rio Jacuí, desde o rio Pardo até o Guaíba.
Anos mais tarde, as
Coroas Ibéricas responsabilizaram os jesuítas pela Guerra guaranítica. Os
religiosos foram considerados prejudiciais à sociedade colonial, pois
constantemente entravam em choque com os colonos das regiões pobres para
defender os índios contra a escravização. Foram também acusados de isolar os
índios da sociedade e de instigá-los contra os colonos, além de terem sido
criticados por possuírem muito poder político e por acumular riquezas.
1759 – As
acusações contra os jesuítas motivou a expulsão de Portugal, instigado pelo
Marquês de Pombal.
CAPITANIA
DO RIO GRANDE DE SÃO PEDRO
1760 – Foi
criada a Capitania do Rio Grande de São Pedro. O primeiro governador foi o
Coronel Inácio Eloi Madureira. A vila de Rio Grande passa a ser a capital até
1763.
1761 / 62
– O Tratado de Madrid foi anulado com a assinatura do Tratado de El Pardo ou
ainda “Pacto da Família”. Isto significa que os Sete Povos das Missões
continuaram sob o domínio Espanhol e a Colônia do Sacramento continuou portuguesa.
1762 a
1777 – Ação espanhola no Rio Grande de São Pedro.
1763 –
tropas espanholas invadiram o Brasil apoderando-se do Forte de Santa Tereza e
da cidade de Rio Grande e de São José do Norte. No período da dominação
espanhola começa a brilhar um herói autenticamente gaúcho: Rafael Pinto
Bandeira.
1764 – Foi
fundado Taquari, o primeiro núcleo açoriano no Rio Grande do Sul
1767 - Na
Espanha, apesar de toda a evidência em contrário, provada pelo processo movido
por D. Pedro Ceballos, alegando os mesmos motivos, Carlos III assinou o decreto
de expulsão dos jesuítas.
1768 - Os
jesuítas foram obrigados a abandonar todas as missões, que terminaram em
ruínas.
1771 – Rio
Pardo defendeu o domínio português com galhardia, combatendo as tropas
espanholas, por isso recebeu o título de “Tranqueira Invicta”. A presença dos
dragões, logo lhe valeu a característica militar, mas conservou o forte
sentimento religioso.
1772 –
Fundação oficial de Porto Alegre. O povoado do Porto dos Casais foi separado de
Viamão e recebeu o nome de São Francisco do Porto dos Casais.
1773 – O
povoado de São Francisco do Porto dos Casais (Porto Alegre) recebeu o nome de
Freguesia da Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre. O Coronel José
Marcelino de Figueiredo transferiu a capital do Rio Grande do Sul, de Viamão
para Porto Alegre.
1776 – Os
espanhóis são expulsos do Rio Grande. Mas o forte de Santa Tereza jamais foi
recuperado. Atualmente está em território uruguaio
â 1763 a
1773 – O governador de Rio Grande Inácio Eloi Madureira transportou a sede do
governo para Viamão.
1777 –
Tratado de Santo Ildefonso foi último ajuste diplomático entre Portugal e
Espanha, durante o período colonial, a dispor sobre seus limites na América do
Sul. Os Sete Povos das Missões passam a pertencer aos domínios coloniais de
Coroa Espanha.
Uma das inovações do
tratado constituiu no estabelecimento dos Campos Neutrais. “As línguas de
terras compreendidas entre as lagoas Mirim e Mangueira e a costa marítima não
poderiam ser ocupadas por nenhuma das nações contratantes, isto é, nem os
portugueses passariam o Arroio Taim, linha reta ao mar até à parte meridional,
nem os espanhóis ultrapassariam o Arroio Chuí e de São Miguel até a parte
setentrional”.
1780 – O
cearense Domingos José Pinto Martins ergueu nas proximidades de Pelotas o
primeiro estabelecimento para a preparação do charque em nossos pagos, a
Charqueada com características empresariais (mercantilização da economia
colonial rio-grandense; produção de charque e expansão da lavoura de trigo;
utilização do trabalho escravo africano). O estabelecimento era formado por
vários galpões coberto de capim e o charque era estendido em varais de pau a
roliços, para secar ao tempo. Para salgar a carne era importado sal de Portugal
ou da Espanha. As charqueadas utilizavam fundamentalmente o trabalho escravo
negro. A partir daí, o negro entra maciçamente no Rio Grande do Sul, como
escravo das charqueadas. Nas charqueadas encontram-se os elementos essenciais
da escravidão brasileira. Além da rica casa senhoril, havia a senzala (casa dos
escravos) e o tronco (instrumento ao qual os escravos eram amarrados e
surrados). O feitor, um empregado branco, fiscalizava os escravos, que
trabalhavam tanto, sem descanso, que muitos morriam de exaustão. Para escapar à
escravidão, os cativos fugiam para os quilombos, revoltavam-se e até cometiam o
suicídio.
Os colonizadores
transformaram-se em poderosos senhores de terras e escravos. Desde o momento em
que os portugueses receberam sesmarias, introduziram o trabalho escravo na
pecuária rio-grandense. Esses senhores, além de estancieiros, eram também
militares, já que a região era de fronteira e as disputas territoriais com os
espanhóis eram freqüentes. Logo, as charqueadas tiveram um poder decisivo na
economia gaúcha.
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