O Negro na Formação do Rio Grande do Sul
Ao optar por
trabalhar este tema, o fiz por julgar um dever de justiça e não por simples
prazer passageiro.
Falar sobre o
elemento negro, em todas as suas dimensões, é um desafio. È tão desafiante,
quanto necessário fazer uma abordagem abrangente.
A História do
Rio Grande do Sul, tanto quanto a História do Brasil, silenciou a participação
do Negro, mas omitiu capítulos decisivos na formação da sua gente, negando aos
negros o direito de, ao menos, serem citados como construtores braçais desse
grande povo.
Dante de
Laytano afirma com muita propriedade, que tanto a História quanto a Literatura
Gaúcha, ocupou-se do Negro apenas de forma acidental, ligeira e
negligentemente, o que não vem a ser uma denúncia infundada.
De fato, a
escravidão não é uma página de glória para o Brasil e nem para o povo
brasileiro, pois nossa historiografia registra a escravidão negra, e muito
demorou em abolir esta forma de discriminação. Foi o campeão em tráfico
negreiro, explorou por mais de três séculos o homem servil, depois proclamou
uma abolição para “satisfazer o branco” e não para libertar o negro, com
inclusão social para uma vida construtiva, com uma existência digna.
No Rio Grande
do Sul, não poderia ter sido muito diferente do restante do Brasil. Tudo
aconteceu da mesma forma, porém em proporções menores. O Negro foi escravo, foi
sofrido, desprezado. Sua contribuição à formação da nossa gente, da nossa terra
é pouco esclarecida.
O historiador
Guilhermino César, em 1970, foi o primeiro a colocar o “Negro em destaque entre
os elementos formadores da etnia gaúcha”.
Cabe a cada
gaúcho, após um século de “Abolição” dar ao negro, elemento integrante da
miscigenação e muito importante na formação do masaico cultural do Rio Grande
gaúcho e brasileiro, o lugar que ele bem merece como construtor deste grande
torrão.
Verificando a sua contribuição em todos os campos da construção sócio-econômica do Rio Grande, não podemos continuar omissos e ignorantes quanto ao papel preponderante que o negro desempenhou em nossa sociedade, em nossa formação sócio-cultural.
O negro entrou no Rio Grande do Sul com a ocupação portuguesa, pois esses e os luso-brasileiros já tinham se acostumado a ter escravos e não podiam dispensá-los nos seus trabalhos.
Verificando a sua contribuição em todos os campos da construção sócio-econômica do Rio Grande, não podemos continuar omissos e ignorantes quanto ao papel preponderante que o negro desempenhou em nossa sociedade, em nossa formação sócio-cultural.
O negro entrou no Rio Grande do Sul com a ocupação portuguesa, pois esses e os luso-brasileiros já tinham se acostumado a ter escravos e não podiam dispensá-los nos seus trabalhos.
Não existem dados
precisos quanto à data exata de ingresso dos primeiros negros, dos primeiros
escravos africanos no Rio Grande do Sul, porém é certo que, com a chegada dos
primeiros povoadores, ele já esteve presente, abrindo picada, fazendo
pinguelas, etc.
O historiador
Mário José Maestri Filho assim escreveu: “o escravo negro estabeleceu-se no
atual território gaúcho antes do início da ocupação oficial do sul (1737).
Portanto quando os primeiros povoadores, que para cá vieram, já o trouxeram na
condição de escravo”.
Há citações de
historiadores, que afirmam essa presença já na fundação da Colônia do
Sacramento, em 1680. O contingente era composto de duzentos homens, sendo
sessenta escravos negros, e destes quarenta e oito eram “propriedade” de Manuel
Lobo, comandante da referida expedição.
Têm-se
indícios de que negros fugidos da Colônia do Sacramento e até mesmo de Buenos
Aires, além dos vindos do litoral paulista e lagunense, se embrenharam nas
matas do território rio-grandense.
É seguro
afirmar que, no mínimo, o escravo negro entrou no nosso Estado carregando a
bagagem do luso-brasileiro, para que o mesmo aqui se instalasse. Foi esse negro
tão pouco valorizado, que deu condições para o branco se aquerenciar, viver e
prosperar.
Referindo-se ao negro,
Maestri Filho registra que, foi a partir de 1680, que o cativo desempenhou
essencial papel na História do Brasil Meridional. Ele foi singular ”mercadoria”
para o contrabando do Prata; trabalhou na Colônia e arredores; participou das
lides, que defrontaram as duas Coroas. Desde esta época, os primeiros negros
cativos foram forçados a singrarem as águas costeiras ou ainda a cortarem o
território gaúcho, indo ou vindo de Sacramento. Alguns deles poderiam ter se
fixado nos pampas interiores, quando das fugas coletivas ou individuais da
Colônia do Sacramento.
Embora não se precise
com exatidão a chegada do negro no Rio Grande do Sul, sabe-se que desde os
primórdios da sua formação, e em toda a sua trajetória, ele foi presença
marcante e indispensável na ocupação portuguesa, pois esses e os
luso-brasileiros já tinham se acostumado com escravos e não podiam dispensá-los
nos seus trabalhos.
O certo é que não se pode contar a História do Rio Grande do Sul sem falar na participação marcante do negro, que segurou as luzes, fez o papel e alcançou o lápis para que seu amo a escrevesse.
O elemento negro esteve junto no povoamento, na delimitação de fronteiras, na afirmação do nosso Estado. Foi um dos arquitetos da sociedade rio-grandense, tão importante quanto aos demais colonizadores que aqui aportaram. A dispersão espacial do negro deu-se do litoral para o interior, atingindo a Campanha e a Depressão Central, a partir dos eixos de irradiação com base em Rio Grande. No principal deles, os escravos eram levados para Pelotas, Canguçu, Piratini e Jaguarão. O outro incluía São José do Norte, Viamão, Triunfo e Taquari.
O certo é que não se pode contar a História do Rio Grande do Sul sem falar na participação marcante do negro, que segurou as luzes, fez o papel e alcançou o lápis para que seu amo a escrevesse.
O elemento negro esteve junto no povoamento, na delimitação de fronteiras, na afirmação do nosso Estado. Foi um dos arquitetos da sociedade rio-grandense, tão importante quanto aos demais colonizadores que aqui aportaram. A dispersão espacial do negro deu-se do litoral para o interior, atingindo a Campanha e a Depressão Central, a partir dos eixos de irradiação com base em Rio Grande. No principal deles, os escravos eram levados para Pelotas, Canguçu, Piratini e Jaguarão. O outro incluía São José do Norte, Viamão, Triunfo e Taquari.
Descendentes
de africanos, mas nascidos no Brasil eram chamados de “crioulos” e os
recentemente trazidos da África eram chamados de “novos” e depois de algum
tempo que estavam aqui, chamavam-nos de “ladinos”. Geralmente usavam apenas o
nome e a ele apenas acrescentavam a profissão ou o local de origem.
A utilização
do braço escravo surgiu como um imperativo econômico inevitável para os
portugueses na fase colonial do Brasil e ocupação do Rio Grande do Sul. O índio
não se prestou para o sistema de trabalho forçado, daí a busca do negro para
garantir a sustentação da incipiente economia.
A presença do
negro na pecuária é uma tanto controvertida. Há quem afirme que pelo tipo de
pecuária que era desenvolvida aqui: pastoreio extensivo e reprodução natural
ocupavam número reduzido de trabalhadores. Os guaranis “missioneiros” e os
“gaúchos castelhanos” foram, sempre que possível, incorporados às práticas
pastoris. Era mais econômico empregar homens livres, os “peões” do que entregar
um cavalo e arma nas mãos do cativo, que sedento de liberdade poderia não mais
voltar, dando prejuízo do seu próprio custo, do animal e da armas.
Outros
afirmam que isso não significa a ausência do escravo africano na vida da
estância, especialmente na vida doméstica como cozinheiro, carregador de lenha
e de água, artífice e guarda da fazenda na ausência dos seus senhores.
Em relação ao
negro no trabalho, Danilo Lazzarotto, refere-se que “o trabalho nas estâncias,
por ser fácil e mesmo agradável, foi aceito pelos estancieiros, os quais o
executavam com sua família e uns poucos auxiliares, geralmente escravos”.
Nas estâncias
o negro era mais bem tratado, geralmente encarregado do serviço doméstico. As
mulheres dedicavam-se a lavar, passar, engomar, cozinhar, criar os
“sinhozinhos” e as “sinhazinhas” dando, não apenas o seu suor, as suas
lágrimas, o seu sangue, mas o seu leite materno, tirando da boca dos seus, para
amamentar os filhos dos seus patrões, dos seus amos.
A participação do negro
na agricultura rio-grandense foi indiscutível. O braço escravo foi utilizado
nos trabalhos mais pesados, como a derrubada de matas abertura de estradas,
preparando manualmente a terra, plantando principalmente o trigo na região de
Piratini e Bagé, colhendo, moendo, carregando, varando rios e até
comercializando nos núcleos urbanos como Porto Alegre, Rio Grande, Pelotas, Rio
Pardo e outros tantos.
No Rio Grande antigo,
haviam propriedades voltadas para agricultura de subsistência e agricultura
mercantil além da criação e nelas o negro foi presença destacada e
imprescindível.
Assim diz Maestri: “As
fazendas de criação, principalmente as mais ricas, comportavam tarefas, que
quase constituíam ”privilégio” da classe servil. Nas estâncias, via de regra, o
negro gozava da mesma liberdade e tinha as mesmas regalias dos seus pares
brancos.
É certo que algumas
estâncias possuíam senzalas, troncos, correntes e outros instrumentos de
tortura, mas isto foi exceção.
Daí entender-se não
haver a tentativa de fuga e o escravo sentir-se até protegido pelo seu dono, o
que difere um pouco das relações escravistas do resto do Brasil.
A marca maior do escravo
no Rio Grande do Sul foi na sustentação da nascente indústria gaúcha: as
charqueadas, onde praticamente faziam tudo e de tudo, desde a montagem dos
edifícios, trabalhando como pedreiro, carpinteiro. Ainda era o matador dos
animais, o sangrador, o curtidor. O negro carneou, salgou, pesou e transportou
mantas, extraiu op sebo, apurou a graxa.Foi ele, indiscutivelmente o grande
responsável pela economia da época. Como se não bastasse, ainda lhe cabia a
execução das atividades domésticas na casa do seu dono.
Tratado com severidade,
tendo sempre em vista apenas o lucro do patrão. Somente o negro forte tinha a
resistência para desempenhar os duros serviços da indústria saladeril. Tarefas
exaustiva e desgastante, por isso só o escravo resistia a tanta rudeza e
sacrifício.
“Durante mais de cem
anos, esta atividade apoiou-se às costas e o suor do homem negro escravizado, o
que por si só já o coloca como um dos pilares da sociedade gaúcha”. (Maestri)
Saint-Hilaire diz, que
“Cerca de oitenta negros ocupavam-se na construção do curtume e depois nele
trabalharão”.
Na formação do Rio
Grande do Sul, a historiografia registra as constantes guerras com os espanhóis
e nestas o negro teve importantíssimo papel e, se foi desconhecido pelos nossos
historiadores, não escapou aos olhos dos observadores estrangeiros como os de
Saint-Hilaire, que os denominou como sendo eles “os mais valentes soldados de
Artigas”. Nicolau Dreys assim refere-se: “o negro é bom soldado e talvez seja a
única profissão para que ele é naturalmente próprio”, e os denomina “os suíços
da América”.
O negro também teve
participação efetiva na história guerreira do Rio Grande do Sul, não sendo
menos importante que as demais, pois foi a mão de obra na demarcação dos
limites de fronteira, foi o soldado em todas as guerras, desde a Guerra
Guaranítica, a Revolução Farroupilha, a Revolução Federalista e tantas outras,
que constituem a vocação guerreira do nosso pago. A cada guerra, que os estancieiros iam ao combate, eram
acompanhados por todos os escravos aptos para a guerra. Sua presença no
exército é registrada de forma indireta e sempre através das ordem de campanha
de alguns oficiais, onde vêem os pesados castigos a que eram submetidos os
escravos, mesmo por faltas leves.
Adalberto Schmidt assim
se refere: “Desde o período colonial o negro sempre participou das tropas
militares, porém são os Farroupilhas os primeiros a reconhecerem devidamente a
sua colaboração. Nas tropas farrapas os negros das zonas agrícolas
destinavam-se à infantaria, enquanto a cavalaria era formada pelos elementos
das estâncias. O negro, uma vez incorporado ao serviço militar, passava a ser
cidadão livre e qualquer oficial era castigado caso maltratasse o homem de
cor”.
Danilo Lazzarotto
acrescenta: “O exército foi o grande aproximador dos brancos com os escravos:
lutavam juntos, acampavam no mesmo barraco, tomavam mate na mesma cuia, acostumavam
se admirar um do outro a coragem e o heroísmo. Ali o negro era mais do que
servo”.
Os escravos negros
tiveram lugar de vanguarda nas lutas farroupilhas. Foram lutadores de extrema
dedicação, libertos ou não, colaboraram com o que hoje chamaríamos “apoio
logístico”, atendendo provimento da tropa, as munições, os animais encilhados,
os vigias, os estafetas, etc. Se os negros não foram os idealizadores dos
combates, também deles não recuaram, assim registra a História: no avanço sobre
a capital em 20 de junho, em 30 de julho e no cerco de Pelotas em 1936.
O Major João Manoel de
Lima e Silva comandou a 1ª legião de escravos, que entrou em Pelotas.
A atuação decisiva do
maior lanceiro que o Rio Grande conheceu, Teixeira Nunes, o bravo dos bravos,
com o destemido grupo de lanceiros negros é que deram o sustentáculo para a
Proclamação da Republica Rio-Grandense nos rincões do Seival.
O feito da Revolução
Farroupilha, ainda muito obscura e pouco contado, foi a injustiça cometida
contra os guerreiros negros na Surpresa de Porongos, onde farroupilhas e
imperiais negaram armas para que os mesmos pudessem se defender e assim
exterminarem, na escuridão da noite, todos os negros ali acampados. Foi um
verdadeiro massacre, foi também um dos derradeiros ataques do decênio tão
heróico.
Os farroupilhas não
esqueceram dos escravos, que lutaram lado a lado pelos ideais republicanos,
pois no Acordo de Paz, entre as cláusulas está: “São livres, e como tais
reconhecidos todos os cativos que serviram na Revolução”.
Mesmo assim, sabe-se que
houve discriminação do negro no exército farroupilha, pois o negro só podia
incorporar-se à infantaria e nunca a cavalaria.
Por tudo isso a nossa
sociedade deveria ser imensamente agradecida. Se a História não registra
grandes feitos realizados pelo Homem de cor, mas só essa doação e fidelidade:
encilhando o cavalo, transportando a família, protegendo a estância, sendo
guarda-costa do seu dono, já mereceria um registro especial e um profundo
agradecimento.
A Campanha Abolicionista
O negro foi escravo não
por assim desejou, muito pelo contrário, desde o início do vergonhoso tráfico
negreiro, ele bradou o seu grito de protesto, o que se constituiu o grande
artífice da busca da sua libertação.
É por todos conhecidos
que a submissão do negro em toda sua vida escravocrata foi quebrado por
diversas vezes.
As reações afetivas do
comportamento do escravo variavam desde a mais completa dedicação até às
atitudes de grande rebeldia, chegando inclusive à violência.
Seu valente protesto se
constatava na indolência ao trabalho, nas fugas, no suicídio, na formação dos
quilombos, nas insurreições urbanas e em outras manifestações que
gradativamente foram encontrando eco nos mais diversos segmentos sociais.
Cada manifestação destas
merece uma análise mais cuidadosa, considerando-se as causas e as
conseqüências, por ex.: Por que o negro era considerado “preguiçoso”, fujão,
perigoso, revoltado, insurreto? Essas são falsas atribuições porque ele era
assim, não por ser negro, mas por ser miseravelmente escravizado.
Comprova o contrário a
formação dos QUILOMBOS, que embora não existam dados objetivos, é certo que
existiram muitos, especialmente nas cercanias dos principais pólos escravistas
da Província: Pelotas, Rio Grande, Porto Alegre, Rio Pardo, Piratini e outros.
QUILOMBOS eram
comunidades de escravos fugitivos, estabelecidos em um ermo qualquer, formando
pequenas comunidades, onde o principal objetivo era sobreviver com dignidade e
conseguir meios seguros de libertar-se e libertar sua raça da escravidão. Na
vida de quilombos, o negro demonstrou capacidade de organização, liderança,
participação nas decisões, produção de sobrevivência e espírito de brasilidade.
Infelizmente foram exterminados, porque representavam uma ameaça aos senhores
escravagistas.
As idéias de libertação
são frutos da Revolução Industrial, que precisava, de um lado, trabalhadores de
maior confiança a quem se pudesse confiar as máquinas, e, por outro, de
consumidores de seus produtos que o pagamento de salário permitiria.
No RS, o Movimento
Abolicionista iniciou cedo porque o sentimento de abolição foi da índole
rio-grandense. Quase todos os proprietários, que faziam uso do trabalho servil,
libertavam seus próprios escravos. Também encontrou guarida graças a repercussão favorável em diversos municípios.
O Partido Liberal colocava como questão prioritária no seu programa em 1879 e
em 29 de agosto, o Conde de Porto Alegre fundava a Sociedade Libertadora, com o
objetivo de pregar a libertação das crianças escravas.
No entanto, algumas
forças favoreceram a campanha em prol da abolição: “Os republicanos davam aos
negros escravos o próprio direito de cidadania, bastando que eles aderissem à
causa e formassem fileiras nos seus exércitos. A facção contrária procurou
atrair os escravos, oferecendo-lhes as mesmas regalias de libertação aos
negros” (Dante de Laytano).
A imprensa cerrou
fileiras em prol da campanha, destacando-se a “Discussão” de Pelotas, primeiro
jornal a incluir, na sua programação, a libertação dos escravos, e não
aceitando anúncios de fugas e negócios de escravos. Logo foi seguido pelos
jornais: A Reforma, Jornal do Comércio, O Mercantil, A Evolução, A Federação,
todos de Porto Alegre e A Pena de Pelotas.
O charqueador pelotense
Antônio José Gonçalves, em seu livro “Memórias Econômico-políticas”, também
condenava a escravidão, porque menos produtiva que o trabalho livre e fonte de
vícios e corrupção no seio das famílias.
O Partenon Literário
teve participação ativa na campanha abolicionista, libertando menores. Comprou
uma gleba de terras, dividiu-a em chácaras, que foram vendidas para comprar
alforria de escravos. O novo arraial, criado em 1873, recebeu o nome de
Partenon. Em 1883, o Partenon Literário criava o “Centro Abolicionista”, sendo
logo seguido por toda a Província; promovendo inclusive a “Jornada
Abolicionista”, em 1884, que alcançou grande sucesso.
Desta forma, o Partenon
Literário, os Clubes Abolicionistas, principalmente o de Pelotas, a Igreja,
através de muitas manifestações, as Confrarias, cuja irmandade assistia e dava
segurança ao negro, resgatando a sua dignidade, a impressa da época deram uma
contribuição fundamental a expansão das idéias libertárias do cativeiro
rio-grandense.
O momento mais
significativo e memorável do esforço libertador no RS foi o Movimento
Emancipador do Negro na Província, em 1884, onde se processou a Abolição
Escrava, quatro anos antes do Brasil como um todo. No início do ano de 1885,
quase não havia mais escravos na província.
Passado mais de um
século da data, que talvez pouco diga realmente porque realmente a Lei Áurea
foi um processo utilizado pelos senhores para se livrarem, sem indenização, da
mão de obra explorada por tanto tempo. A liberdade dada ao escravo não melhorou
a sua situação existencial, resultando na marginalização social deste ser que,
com sangue, suor e a duras penas também muito contribuiu na construção do Rio
Grande Gaúcho.
Contribuição
Cultural do Negro
Considerando a raça
negra como um componente significativo na formação da sociedade
sul-riograndense, embora menos que nas outras regiões do Brasil, não se pode
menosprezar a sua contribuição em todas as áreas: cultural, artística,
religiosa, culinária e folclórica.
Na vida cotidiana, o
negro conviveu com o branco lado a lado, especialmente na estância, onde era
encarregado do cuidado das crianças, das lides domésticas e de outras
atividades. Crianças livres e escravas foram criadas juntas, aprendendo os
mesmos costumes e maneiras. Por isso, muitos hábitos e costumes foram herdados
pela convivência cotidiana com o negro, e nem nos damos conta disso.
Legados culturais:
são muitos e diversificados, já pela própria origem dos negros oriundos de
diversas regiões da África. Através da música, carnaval, samba e ritimos
africanos; língua – o africanismo em nosso dialeto, tais como: anta angico,
angu, banana, batuque, caçula, cachimbo, fandango, macaco, mulata, ; da lenda,
como Negrinho do Pastoreio, Lagoa Negra,
credos, costumes diversos, muitas vezes até antagônicos entre si.
Na linguagem,
herdamos expressões e termos como “Cabeça de porongo”, “Macaco velho não bota
mão em cambuca”, “Porongo sempre dá cuia”, “Quem não tem medo de mandinga, não
usa patuá”, “Mexer em casa de marimbondos”. Tudo isso foi incorporado em nosso
linguajar diário. Termos como: anta, angico, angu, banana, batuque, bambaquerê,
bombear, cacimba, caçula, cachimbo, fandango, matungo, macaco, monjolo, mulato,
milonga, quitanda, sanga e muitas outras palavras de uso corrente do nosso
falar.
Nas artes, também
houve influências marcantes como o ritmo, os instrumentos, o carnaval.
Instrumentos como o atabaque (tambor ou tamborinha), o berimbau, o
sopapo-tambor de tamanho avantajado que se diz ter origem entre os negros
rio-grandenses; o age (chocalho) bem conhecido e usado no RS.
Na alimentação –
A gastronomia gaúcha foi temperada pelas mãos sábias das negras velhas,que se
esmeravam para fazer gostosos quitutes em forno e fogão. Assim temos como
herança – o mocotó, a feijoada, o quibebe, a pipoca, os molhos condimentados,
as doçarias saborosas, além da culinária de cunho religioso e cheio de misticismo.
No vestuário – a
mulher gaúcha assimilou com graça os adereços como brincos, colares, pulseiras,
figas, chinelos, cabeção rendado, turbante, saias amplas e rodadas, babados e
rendas, etc. Vale registrar, que negros dos Moçambique usavam bombachas ao invés
de calças.
Nas festas populares
e folguedos tradicionais – No carnaval, não se concebe a ausência do negro
e do mulato. Nas festas religiosas como de N. Srª dos Navegantes, do Divino
Espírito Santo, São Jorge, São Benedito, São Miguel, etc. o negro marca
presença com toda a sua tradição.
Nos tipos populares
– vendedores, cantadores, benzedeiras, parteiras, o “Tio Anastácio”, “Tio
Domingos”, Nhô Venâncio, Nhá Donata, Siá Inácia, etc.
Na religiosidade:
é grande a influência dos rituais africanos nas crendices populares do RS. Há
diversos cultos afros num sincretismo com o cristianismo e o espiritismo, o
mais conhecido no RS é o batuque praticado em terreiros de candomblé. Muitas
crendices, como benzeduras, simpatias, uso de figas, etc, são heranças bem africanas
ou afro-brasileiras.
No folclore –
Além de tudo o que já foi citado, o negro legou ao nosso folclore um toque
especial nas lendas, que todos nós conhecemos. Alem do Negrinho do Pastoreio –
expressão mais alta da literatura oral rio-grandense, muitas outras como a do
Negro Ressuscitado, Pai Manoel, Santa Josefa, Lagoa Negra e outras tantas que
cada um conhece.
As nossas cantigas de
ninar, de trabalho, de rodas, os brinquedos, os folguedos, tudo tem um pouco de
colorido negro. Festa de Iemanjá, as Congadas de Osório, os Quicumbis e
Moçambique de Mostardas, o Bumba-meu-Boi, já quase em extinção.
E assim ainda poderíamos
enumerar uma série de contributivos afros aos nossos costumes, o pouco que
ainda resta do muito que eles nos legaram e que tão pouco assimilamos daquilo
que o tempo ainda não ofuscou.
Um Século de Luta para Sobrevivência da Raça
Após 150 anos de
escravagismo no RS e pelo fato de o mesmo ter se antecipado na abolição dos
escravos, não significa que tenha concedido aos negros o lugar de destaque que
os mesmos mereceram.
Há mais de um século foi
assinada a liberdade para os cativos, mas apesar disso o que se fez para
integrar o negro na sociedade?
Será que atribuímos a
ele o valor que tem por ter história e muito ter contribuído na formação do
nosso estado?
Embora exista uma
legislação ampla, que o proteja contra a discriminação racial, na prática, a
sociedade o rejeita e das maneiras mais diversas e camufladas.
O negro na atualidade
ainda luta para sobreviver numa sociedade de brancos, que o segrega e o
menospreza em todas as circunstâncias. O preconceito não permite que o negro
concorra em situação de igualdade com o branco, a não ser acidentalmente.
Afirmamos que não temos
preconceitos, mas muitas vezes nos traímos, porque fomos habituados a
expressões desdenhosas sobre os negros. Conhecemos uma infinidade de adágios,
que considera o negro como um ser sub-humano.
Ao observar o tratamento
que o negro recebe no contexto global da sociedade gaúcha, afirma-se: “O negro
não foi imigrante, Foi somente escravo, trazido à força da África e largado
após 13 de maio, a Deus-dará, sem qualquer preparo e recurso pra aceitar a
situação de liberto...” (Angelos).
Realmente, o negro não
foi convidado pelo governo, não teve assistência dos consulados, não recebeu
terras, nem sementes, nem ferramentas e teve de enfrentar a vida, não apenas de
órfão, mas desprovido de toda a humanidade.
Os resquícios dos
Quilombos ou de outros marcos da população negra do nosso Estado.
BIBLIOGRAFIA:
-
Dante de Laytano – Folclore do RS
-
Verônica Monti – O Abolicionismo – 1884 sua hora
decisiva no RS
-
Moacyr Flores e outros – Cultura Afro-Brasileira
-
Hélio Moro Mariante – o negro no Folclore do RS
-
Mário José Maestri Filho – O Escravo Gaúcho –
Resistência e Trabalho
O Escravo
no RS – A Charqueada e a Gênese do Escravismo Gaúcho
-
Adalberto Schimidt – Estudos Rio-Grandenses
-
Décio Freitas – Palmares, a Guerra dos Escravos
e outros.
-
Danilo Lazzarotto – História do Rio grande do
Sul
-
Igor Moreira – O espaço Rio Grandense
-
Orfelina Vieira Mello – A Contribuição do Negro
na Formação do Rio grande do Sul
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