sexta-feira, 18 de abril de 2014

Vejamos um pouquinho de cada uma das raças indígenas que povoavam o RS:

GUARANI ou TUPI-GUARANI
Os guaranis, vindos do Paraguai há mais de 2 mil anos, conquistaram o vale do rio Uruguai, subindo pelos seus afluentes. Pelo vale do rio Ibicuí, atingiram a depressão do rio Jacuí e seus afluentes. Dividiam-se nas parcialidades nhandeva, mbyá (avá mbyá e cainguá) e cayowa. O grupo mbyá habitava o território que seria o RS. Na época da evangelização, os missionários jesuítas chamavam de Tape (Tapes) a região entre os rios Jaguari, Uruguai e Ibicuí. No século XIX, este topônimo deslocou-se para junto da Laguna dos Patos. Os Tapes eram indígenas guaranizados que habitavam a antiga região do Tape.

O Guarani é o grupo formado pelas comunidades ou tribos indígenas dos Tapes, Arachanes, Carijós, Patos (ocupavam a planície litorânea). É considerado de caráter brando, dócil e pacato, porém, indolente e imprevisível e por isso, definido como guerreiro e primeiros agricultores do RS. Superavam a fadiga, a doença, a dor e a morte sem lágrimas ou gemidos. Apesar da variedade de dialetos, a língua comum era a tupi-guarani.
O guarani caracterizava-se pelo nhade reko* e pelo teko hã*, em relação ao espaço geográfico, formado pela tetami*, coty ou oga*, cõ*, chapecó* e caá*.
Acreditava que, quando o mundo surgiu haviam recebido de Amambaé, Deus criador da “terra do homem”.
Vivia em aldeias e numa aldeia viviam vários clãs. Cada aldeia era formada por várias casas dispostas em círculo por ordem de clã e protegidas por uma paliçada de trocos, chamada de caiçara*. Cada casa de forma alongada, com uma porta para os homens e outra para as mulheres, sem divisão interna e abrigando os membros de um mesmo clã. No centro da tetami, ficava a ocara*, onde aconteciam as festas religiosas. Dormiam em rede, guardavam objetos em jiraus, sentavam em banquinhos ou em esteiras, guardavam líquidos e grãos em potes de cerâmica ou em porongos.
O Guarani habitou a região leste do rio Uruguai, as serras do planalto rio-grandense, incluindo a região dos Sete Povos das Missões, além da laguna dos Patos e grande parte do litoral. Essas áreas apresentavam grande variedade de espécies, proporcionando boa caça e coleta. Preferiam as margens dos grandes rios como Jacuí e Uruguai e seus afluentes e a clareira das matas, porque o solo é fértil e favorável ao cultivo. Por viverem nas regiões dos grandes rios, eram exímios canoeiros e as embarcações eram chamadas de ubás* e pelota*.
A economia baseava-se na caça, pesca, coleta de frutos e plantas nativas comestíveis e agricultura especializada em clareiras abertas pela coivara*, proporcionando uma alimentação diversificada.
coivara*: queimada da vegetação, a fim de limpar e adubar o terreno para o plantio.
Suas aldeias eram construídas próximas às margens dos rios, o que lhes ajudava nas tarefas da pesca e da agricultura. A saúde era cuidada, através da coleta de ervas medicinal.  Praticavam a coleta da erva-mate, chamada de caá-iari*, com a qual tomavam o mate, chamado de caá-iró*.
O puxirum ou mutirão era o trabalho em grupo para ajudar na construção de uma roça ou de uma casa. Os homens dedicavam-se à caça, à pesca e à guerra. Pescavam com redes, flechas, anzol de osso, puçá e timbó. A caça era comunitária e o matador do animal repartia a carne entre os demais participantes. Enquanto durava a caçada, o pajé (Caraí ou Xamã)* permanecia em transe,para proteger os caçadores. Armava-se de arco, flecha, lança, tacape, zarabatana e boleadeiras fabricadas pelo homem, que também era responsável pelo fabrico das canoas (ubás e pelota);  preparar a coivara*, limpar o  solo para a plantação. Usavam várias clareiras em estágios diferentes de plantação, maturação e colheita, deixando sempre uma como capoeira* para o solo se recuperar.  Á mulher tinha de semear a terra para cultivar milho, feijão, abóbora, batata-doce, mandioca, amendoim. Plantavam fumo e algodão e com este (algodão), fiavam, teciam e fabricavam esteiras e redes, onde dormiam. Embora trabalhassem em grupo, cada família tinha sua plantação. 

Eram grandes artesões em cerâmica, utilizando a argilado solo, como o qual a mulher fabricava igaçaba* e potes de barro, que serviam para guardar alimentos e carregar água, inclusive para molhar as plantas, garantindo a colheita.
O nhanderu ou pajé* era encarregado de transmitir o teko yma*, porque os mbyás executavam todos os atos do quotidiano com o ritualismo que mantinha a ordem cósmica, como a pintura corporal, poligamia*, couvade*, a saudação lagrimosa, a educação dos filhos, os sonhos proféticos, a antropofagia e o puxirum ou mutirão.
Os clãs estavam divididos em metades. Os chefes de clã, com os chefes das metades e o nhanderu* participavam do Conselho Tribal da aldeia que, reunidos, decidiam sobre os assuntos mais importantes para a tribo, como a migração, caçada, pesca, guerra e paz. Havia também morubixaba* ou tubichá*, chefe e responsável por manter a ordem na aldeia, sendo um elemento de conciliação. O taxauá* era o chefe provisório, mandava temporariamente durante a caçada, ataque bélico ou pescaria, enquanto que o pajé* cheirava o pó da erva-mate para obter poderes sobrenaturais e por sua magia, tinha grande influência na aldeia.
Os homens se adornavam mais que as mulheres, tatuando e pintando o corpo, usando colares, pulseiras de sementes, contas, dentes de animais, ossos e plumas. Furavam o lábio inferior, colocando um “tembetá” ou “batoque”*. A pintura corporal tinha significados simbólicos e característicos de cada clã, metade de clã, sexo, idade e posição no grupo.
O casamento era monogâmico* e a poligamia era usual apenas entre os chefes, que precisavam de mulheres que trabalhassem para dar comida e objetos a seus subordinados, mantendo assim a chefia.
Os homens entregavam suas mulheres a outros homens em troca de objetos ou em penhor de uma aliança. Esse costume facilitou a mestiçagem com os brancos.
Couvade ou choco era o ritual de proteção ao recém-nascido. Quando a mulher dava à luz, o homem não comia carne durante 15 dias, ficando de resguardo na rede. A mulher tinha o filho sozinha, cortava-lhe o cordão umbilical, banhava o recém-nascido e depois entregava- o ao marido, que esperava na rede. Se ele pegasse a criança, estaria reconhecendo-o como filho. A mulher ia logo trabalhar na roça a fim de enganar os maus espíritos, que poderiam se apossar da criança. Era também uma maneira de selecionar as mulheres mais resistentes.
Quando chegasse um hóspede na aldeia guarani, as mulheres praticavam a saudação lacrimosa, o recém chegado sentava na rede, enquanto as mulheres choravam com grande alarido e depois enxugavam as lágrimas e davam as boas vindas ao viajante.
O menino até 8 anos ficava junto com a mãe, depois ia para a casa dos homens, quando passava a aprender com o pai a pescar e a caçar. A menina permanecia junto à mãe. Após a primeira menstruação tinha liberdade sexual, desde que seus parentes fossem indenizados. Não batiam, não gritavam e nem castigavam os filhos. Acreditavam que um banho frio pela manhã prolongava a vida. Banhavam-se várias vezes ao dia.
Ao acordar, o guarani contava seus sonhos, em busca de uma interpretação, pois acreditava que eles eram proféticos.
Gostavam muito de música e danças. As danças guerreiras ou religiosas (festas) chamavam-se “poracés”. Fumavam cachimbo nas festas religiosas ou rituais religiosos. Confeccionavam seus próprios instrumentos musicais como membi*, maracá*, guarara*, com material retirado da própria natureza, como cabaças, cascas, ossos, paus ocos e outros. Embora não sejam considerados cruéis, praticavam a antropofagia em ritual, comendo prisioneiros de guerra por ato de vingança, não escapando velhos, mulheres e crianças. Acreditavam em grande quantidade de espíritos bons e maus, por isso eram politeístas. Adoravam as forças da natureza: vento, trovão, chuva. O chefe religioso era Tupã*, deus do bem, que tentava curar os doentes, sendo o deus mais importante e considerado o criador do relâmpago e trovão.
Também considerava outras divindades como Anhangá*, Uirapuru*, Iara*, Guaraci* e Jaci*, Pagé*, também chamado de “Caraí” ou “Xamã cheirava o pó da erva-mate para obter poderes sobrenaturais. Algumas parcialidades enterravam seus mortos em igaçaba*, acreditavam que o “ang”ou “anguera”, a alma do morto,  poderia escolher três caminhos: reencarnar numa criança, que nascia; encostar-se em alguém ou seguir para o paraíso de “Monan”, onde não faltaria calor, caça e água. Acreditava na existência de um paraíso na terra, o Yvi Maray*. A terra era imperfeita e novamente seria destruída pelo fogo e pelo dilúvio, salvando apenas o Yvi-maray*. Os guaranis migravam constantemente em busca da terra perfeita.
Sua teogonia* estava formada pela trindade Monan*, o Deus criador e pai de maíra-monan, que os homens queimaram numa fogueira e de sua cabeça saiu o trovão (Tupã), que, por vingança, queimou com fogo  o céu e a terra imperfeita, salvando-se apenas Irin-majé*, que junto com sua esposa povoou a terra. Em outra versão, Irin-Majé* é a chuva, filho de Monan que fertiliza a terra. O duplo de Monan é Sumé*, o civilizador, que ensinou a agricultura. Na segunda versão, Sumé é filho de Irin-Majé*.
Estes deuses também tinham o seu mair-puxi*, reunindo o negativo e o positivo, que existem em cada pessoa.De “Sumé” nasceram os gêmeos “Aricoute”, o filho mau e ciumento, que mandou o dilúvio, e “Temendonaré”, o filho bom que deu nome às coisas que Monan criou e ensinou os homens a sobreviverem na grande enchente, refugiados encima de palmeiras. Outra versão afirma que se salvou um índio e sua irmã grávida, no alto de uma palmeira, dando origem a humanidade. Acreditavam também em gênios como Yurupari ou Jurupari*, Caapora ou Caipora*, Curupira, Uiara ou Iara e Anhangá*.Estas semelhanças religiosas com a Igreja Católica, tais como missa para os mortos, crença nas almas, trindade divina, paraíso no céu, facilitaram o trabalho de catequese dos missionários, de quem foram grandes parceiros, no período em que os espanhóis tentaram ocupar nosso território. As reduções jesuíticas transformaram-se no Yvi-Maray*, protegendo os índios contra a escravidão dos portugueses e espanhóis.Os guaranis históricos desapareceram lentamente do RS, pelos ataques dos bandeirantes, pela guerra guaranítica, pela escravidão imposta pelo governo militar espanhol nas reduções depois da expulsão dos jesuítas, pelo recrutamento militar e pela mestiçagem forçada das mulheres com os homens brancos.O Guarani, especialmente do grupo Tape, foi o elemento básico na formação das Reduções e dos Sete Povos das Missões.Em 1756, com a Guerra Guaranítica, portugueses e espanhóis invadiram os Sete Povos. Em 1757, levaram 700 famílias guaranis para Rio Pardo, que foram assentadas nas aldeias de São Nicolau de Rio Pardo, São Nicolau de Cachoeira e, em 1762, na de Nossa Senhora dos Anjos (Gravataí).Após a expulsão dos jesuítas, em 1768, aos poucos suas terras foram sendo tomadas, seu gado roubado e sua população dizimada.Alguns poucos se integraram à sociedade rio-grandense como peões de estância e as mulheres foram esposas de portugueses, que se tornaram troncos de famílias gaúchas tradicionais. Em 1801, com a invasão luso-brasileira nos Sete Povos, os guaranis se dispersaram pelo RS, Uruguai e Argentina, trabalhando como peões, tropeiros e artesões.
Da cultura guarani, quase nada sobrou, a não serem alguns nomes geográficos, o costume do tradicional chimarrão, o uso de vocábulos como aroeira, capim, capivara, capoeira, cutucar, cipó, cuia, guri, peteca, taquara, araçá, biboca, caboclo, capim, tatu, piá.O guarani existente atualmente no RS chegou ao final do século XVIII, corrido pelos cafeicultores de São Paulo e pelas frentes de colonização no Paraná e Santa Catarina. Alguns grupos menores são oriundos do Paraguai.Segundo Alvar Nunez Cabeza de Vaca, desde a fundação de Assunção, no Paraguai, os guaranis forneceram alimentos e suas mulheres aos espanhóis, porque queriam aliados fortes para combater seus inimigos. Os Guaranis eram inimigos de outras parcialidades indígenas por causa de seu ritual antropofágico. O fato da economia dos guaranis ser principalmente agrícola facilitou aos padres missionários reuni-los em reduções para a evangelização.
Atualmente, existe um grupo muito reduzido de guaranis no toldo da Guarita, em Tenente Portela, além de outras localidades.
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GLOSSÁRIO:
nhade reko*: modo de ser                                                          
teko hã*: onde se vive.
tetami*: aldeia                                                                               
coty ou oga*: casas
cõ*: roças                                                                                      
chapecó*: caminhos 
caá*: mato                                                                                     
caiçara*: cerca de troncos, paliçada.
ocara*: praça central.           
ubás*: canoas para várias pessoas.
pelota*: para uma única pessoa.
poracés: danças guerreiras ou religiosas.
membi*: flauta.
maracá*: chocalho.
guarara*: tambor.
Anhangá*: deus do mal, protetor da caça.
Uirapuru*: protetor dos pássaros.
Iara*: protetora dos rios.
Guaraci*: sol.
Jaci*: lua.
pajé* ou Caraí” ou “Xamã”: chefe espiritual dos índios, misto de feiticeiro e médico, piaga.
Yvi Maray*: paraíso, terra sem males.
teogonia*: conjunto de divindades, cujo culto forma o sistema religioso de um povo.
Monan*: deus criador e pai.
Irin-Majé*: chuva e filho de Monan.
Sumé*: deus civilizador que ensinou a agricultura, pai de Aricoute e Temendonaré.
Tupã*: deus do bem, tentava curar os doentes, sendo o deus mais importante e considerado o criador do relâmpago e trovão.
mair-puxi*: lado mau e destruidor      

PAMPEANO
O grupo dos pampeanos esteve constituído pelas parcialidades dos Charruas, Minuanos, Guenoas, Yarós, Guaicurus, Chanás, Mboanes. Ocupavam o sul do RS, na região da Campanha; o sul do rio Jacuí e Ibicuí, entre os rios Quaraí, Jaguarão, Camaquã, Serra do Herval e parte sul do litoral (lagoa Mirim e Mangueira), além dos atuais territórios das Repúblicas do Uruguai e Argentina. Dentre eles, os que mais se destacaram foram minuanos e charruas.
Os Mbaias eram indivíduos altos, com costumes e hábitos diferentes dos demais e inimigos tradicionais dos índios da nação Guarani.
Os charruas eram escuros, quase negros e os minuanos eram bem mais claros. Todos falavam língua quíchua. A menina Charrua recebia listras coloridas na testa, quando entrava na puberdade e todos cortavam artelhos em sinal de luto.
Construíam suas tendas ou toldos junto às margens de rios ou banhados porque eram pescadores, caçadores e a recoletores sem conhecimento de cultivo. Nos campos abertos, o grupo construía colina artificial em zonas baixas e alagadiças, perto de rios, lagoas, sobre colinas naturais, conhecidas pelo nome de cerritos armando tendas ou toldos (casas), em elevações de terra, construídas à margem de banhados ou rios, em meio a locais mais secos e de visão mais ampla dos redores, como meio de defesa, inclusive das enchentes. Acredita-se que tolderia eram locais de moradia e também de enterramento dos mortos. Primitivamente, os toldos eram cobertos por esteiras de junco e, após o contato com o gado, passaram a cobri-los com couro. A tolderia era uma reunião de famílias extensas, sem se organizarem em aldeia com chefia, salvo em tempos de guerra, que escolhiam temporariamente um chefe. O último cacique que a história registrou foi Dom Miguel Caraí, filho de um espanhol com índia da tribo minuano.
Por habitarem áreas de solo pobre, como banhados, rios e lagoas, não muito apropriadas para o plantio, não eram agricultores. Sua alimentação era à base de aves, peixes, caranguejos, mariscos e crustáceos encontrados nos banhados, da coleta de frutas e uma espécie de cebola nativa.
Por serem nômades, não tinham aldeias fixas e vagavam de um lugar para outro, levando consigo as mulheres e filhos. As mulheres iam a pé carregando tudo que pertencia à família. O homem seguia perseguindo caças como preás, lebres, tatus, aves aquáticas, para a alimentação, além de onças, veados, emas, que também eram usadas como meio de transporte. Na caça, usavam boleadeiras*, com a qual desenvolveram a prática de laçar, fato que explica serem eles, posteriormente, exímios cavaleiros e preadores de gado. Pescavam com rede e com flechas. Suas armas eram arco, flecha, lança, funda. Na guerra, usavam lanças e por isso foram excelentes lanceiros.
Como viviam em áreas de temperaturas baixas, com invernos rigorosos, inventaram uma espécie de poncho* para se abrigarem do frio. Eram hostis aos demais povos indígenas e faziam sinais com a fumaça, compreendidos pelos seus guerreiros espalhados pelo pampa gaúcho.
Os homens costumavam enfeitar-se mais que as mulheres, adornando-se com tatuagens, pintura corporal e batoques*, cabelos longos e presos com vinchas ou ainda trançados.
Os pampeanos abrigavam em seus toldos foragidos, desertores e contrabandistas de origem portuguesa ou espanhola, não se dando importância às suas chinas (mulheres) se unissem a eles, mesmo temporariamente. Esses costumes facilitaram a formação do grupo social chamado de gaudério ou gaúcho. Moacyr Flores afirma: “o adultério não existia, pois o marido não se importava com quem a china (mulher) tivesse relações” (IN: História do RS, 7ª ed. 2003, pág.14.). Trocavam a mulher por qualquer objeto.
Praticavam a poligamia e quando a mulher envelhecia, tomavam uma mais jovem. Segundo Moacyr Flores, “o adultério resolvia-se com uma briga ou discussão entre os homens” (in: História do RS. 1986, pág.8).
As mulheres pampeanas desempenharam um papel de feiticeiras, pois acreditavam curar doenças chupando a pele do doente nos locais doloridos. Acreditavam que toda pessoa tem um espírito guia, que se revela após longo jejum. Em sinal de pesar, as mulheres pampeanas cortavam as falanges dos dedos das mãos e guardavam luto por 10 dias.
Em 1620, padres jesuítas começaram a atravessar o rio Uruguai, tentando catequizar os índios Guarani e parcialidades Pampeanas, mas estas não aceitaram viver em reduções.
Em 1680, os jesuítas tentaram formar um povoado com os pampeanos no RS, denominado Santa Maria dos Guenoas, que seria mais um dos Sete Povos e não deu certo, tendo sido anexada ao povo de São Francisco de Borja.
A vida de caçador, as faltas de organização comunitária mais complexa e de afinidades religiosas dificultaram o aldeamento dos pampeanos sob a forma de missão.
A partir do contato com os padres missionários, o cavalo introduzido em 1607 e o gado a partir de 1634 além das frentes de povoamento, o índio pampeano modificou seu hábito alimentar e a sua cultura.
Deixaram a coleta, tornando-se exímios pastores, temíveis cavaleiros armados de longas lanças ou com as boleadeiras, grandes amigos dos portugueses na préia do gado e nas guerras.

No inverno, o índio pampeano passou a se proteger do frio e do vento Minuano, com um couro sobre as costas, tipo capa, que cham
 ado de Caiapi*, Quiliapi* ou Toropi*, conforme a tribo. Na cintura, em lugar do pano enrolado, passaram a usar um couro chamado de Chiripá*.

Como inimigos tradicionais dos guaranis das Missões, os pampeanos tornaram-se aliados dos portugueses, ajudando-os na preia do gado e nas guerras, e foram dizimados pelos violentos ataques dos espanhóis, que queriam a posse das terras.
Embora continuando com a caça tradicional, passaram a alimentar-se de bovinos e cavalares. Quando retornavam ao rancho, ia logo se deitar e a mulher desencilhava o cavalo, trazia a lenha e cozinhava a caça.
Portugueses e espanhóis passaram a ocupar as terras onde viviam os pampeanos, com fortalezas, vilas e estâncias, tais como: Colônia do Santíssimo Sacramento (1680), San Felipe de Montevidéu (1726), Forte Jesus-Maria-José – São Pedro do Rio Grande (1737), centros de onde partiam os changadores*, gaudérios*, patrulhas militares*, desertores* e povoadores de terras vizinhas. As estâncias missioneiras, de espanhóis e de lusos, expandiram-se nas terras onde viviam os índios pampeanos, os quais passaram a reagir violentamente, atacando as povoações espanholas de Santo Domingo Soriano, San Salvador e Víboras (nenhuma no RS), saqueando as estâncias em busca de cavalo, erva-mate e fumo, além de raptarem as mulheres e crianças para servi-los.
Empurrados pelas frentes de colonização em direção às cabeceiras do rio Negro e para a região entre Quaraí e o Quequaí, os Charruas se uniram aos Minuanos no início do século XVIII. Em 1705, na guerra dos Guenoas, os índios das missões quase os exterminaram. Em 1811 e 1820, charruas e minuanos participaram como soldados das tropas de José Gervásio de Artigas. As constantes campanhas dos espanhóis contra as chamadas nações bárbaras, denominada de “la guerra de los charruas”, destruíram a população indígena da Banda Oriental do Uruguai. Em 1832, o presidente Rivera ordenou o massacre dos últimos charruas reunidos na povoação de Bella Unión (Uruguai, vizinha do município da Barra do Quaraí). Nesse ano, os remanescentes dos charruas e minuanos refugiaram-se no lado sul-rio-grandense, incorporando-se às tropas de Bento Manoel Ribeiro ou peões das estâncias.
            O índio pampeano não mais existe, mas a eles devemos muitos dos usos como o das boleadeiras, do chiripá, dos costumes campeiros, o assado da carne em brasas e espetada num pedaço de pau. Também mascavam fumo e tomavam chimarrão. Muitos vocábulos como china, chiripá, cancha, poncho, guacho, charque, chasque, guasca, guampa, pampa, mate, xiru, vincha, inhapa, guaiaca, lechiguana, tambo...
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Glossário:
boleadeiras*: instrumento usado pelos campeiros para apreender os animais e inimigos nas guerras. É formada por bolas de pedras redondas, retovadas ou não (forrada com couro), sendo tradicional o uso de boleadeiras composta por uma só bola de pedra, chamada de “bola louca”. O objeto era arremessado pelo índio num tiro certeiro para capturar a presa. Mais tarde, o instrumento foi aperfeiçoado e apareceram as versões de duas e de três bolas amarradas por tentos ou cipó. Duas das pedras tinham um mesmo tamanho e uma delas era menor, chamada manicla, ligadas entre si por cordas trançadas ou torcidas, de nome sogas.
poncho*: espécie de capa feita de couro do animal. Atualmente, é uma capa de pano de lã, de forma retangular, ovalada ou redonda, com uma abertura no centro, por onde se enfia a cabeça.
batoque*: rodela que os índios introduziam nos furos dos lábios, também chamado de tembetá.
Caiapi*: manto de couro cru bem sovado, com o pelo para dentro e o carnal para fora, sendo pintado de listras vermelhas e azuis, usado pelo Minuano.
Quiliapi* ou toropi*: mano de couro cru bem sovado, com o pelo para dentro e o carnal para fora, sendo pintado de listras vermelhas e azuis, usado pelo Charrua.
Chiripá*: couro enrolado à cintura, tipo saia, usado pelo Mbaya. Atualmente, é de algodão ou baeta (lã), nas cores verde, vermelho ou azul; de comprimento cobrindo o joelho, com abertura no lado esquerdo.
changadores*: espanhóis que coureavam todo  gado que podiam. Traziam cavalos, atravessando-os em balsas pelos rios, acampavam em grupos de 30 a 40 homens, chefiados por um capataz. Matavam o gado e tiravam-lhe o couro, que, depois de bem limpo, deixavam secar estaqueados em paus. Com o passar do tempo, passaram a aproveitar também a graxa ou sebo do gado para vender. A carne era abandonada aos urubus e aos ferozes cachorros-chimarrões.
gaudérios*: aventureiros paulistas e lagunistas apropriavam-se do gado xucro para explorar o couro e a graxa. Mais tarde, foram trabalhar nas estâncias de criação de gado que se estabeleceram nos campos da campanha
patrulhas militares*: os campos do sul eram áreas pretendidas pela Espanha e Portugal. A partir de 1803, Portugal passou a enviar patrulhas para vigiar os campos, as quais iam do rio Uruguai até o rio Quaraí.

desertores*: militares que abandonaram a milícia sem licença. Pessoas que fogem ao dever ou ao serviço assumido. 

Vejamos um pouquinho de cada uma das raças indígenas que povoavam o RS:
JÊ OU TAPUIA
Antes da invasão guarani, os índios da nação Jê ou Gê, ocupavam quase todo o território do RS. A partir do século XVI, estavam confinados no norte e nordeste, nas terras mais altas do planalto meridional (rio-grandense), na região dos campos de cima da serra e florestas com pinheiros (araucária), especialmente na encosta da serra, onde o clima é de invernos rigorosos e verões quentes e curtos. É o grupo, raça ou (nação) que os brancos denominaram de bugres, cujos remanescentes são chamados de Kaingang.
O povo Jê esteve formado pelas tribos Guarás, Guaianás, Coroados, Pinarés, Botocudos, Ibijaras, Caaguás, Gualachos, Bugres. Acredita-se que sejam descendentes dos mais antigos caçadores do interior. Os botocudos habitavam o litoral e a região dos aparados da serra e eram adversários ferrenhos dos coroados.
Na região onde atualmente se localiza São Francisco de Paula (próximo a Gramado Canela, Cambará do Sul), viviam os caaguaras, que os índios guaranis chamavam de “iraiti-inhacame” ou “cerados” porque usavam cera na cabeça. Sua região era denominada de Caágua e atualmente constitui-se nos Aparados da Serra. Falavam aos gritos e assovios, razão pela qual, os padres não conseguiram escrever seu idioma. Os iraiti-inhacame ou cerados combatiam constantemente os portugueses e os ibirayaras, que os escravizavam, porém fizeram amizade com o Padre Cristóbal de Mendonça. Foram dizimados pelos bandeirantes. Na larga faixa dos ervais naturais, que descia obliquamente na direção noroeste ao sudeste, até abaixo das terras onde hoje está Porto Alegre, estavam os Gê guaranizados, pelo contato com os guaranis de Corrientes (Argentina) e do Paraguai. Ao sul e sudeste, moravam seis parcialidades distintas entre si, bem como algumas subdivididas, porém todas conservavam traços comuns, como os índios da tribo Mbaias: perfeito prolongamento da geografia humana dos Pampas argentinos, tanto que, como os Pampeanos, logo se tornaram grandes cavaleiros.
Moravam em aldeias de cinco a seis cabanas, com quatro divisões internas, com 20 a 25 famílias, em casas de palha, mas para o inverno abriam covas (casas subterrâneas) para se abrigarem do frio e das chuvas, chamadas de “casas-poço”, que também serviam como defesa contra os invasores inimigos. Essas casas eram grandes bacias afuniladas feitas a partir de uma cavidade na terra, cujo teto era feito de palha sobre a superfície, apoiado por três troncos no centro e aproximadamente oito pilares a sua volta, cujo telhado não chegava até o chão, possibilitando o arejamento e a saída da fumaça do fogo que ficava no centro da moradia. A entrada e saída da casa era por uma escada de pedra, escavada na própria parede ou ainda de madeira. Acredita-se que ao redor da cavidade interna, havia uma espécie de banqueta, onde dormiam ao redor do fogo, recostados à parede inclinada, com os pés voltados para o fogo, que de noite permanecia aceso no centro da habitação. Ainda existem vestígios destas casas, tanto na zona do campo como da mata.
Os coroados, fugindo dos brancos e dos inimigos botocudos, construíam seus ranchos no alto dos morros, no meio dos pinheirais.
Os jês dedicavam-se a guerra, a caça e a pesca, praticavam a agricultura rudimentar, cujas atividades agrícolas eram divididas por sexo.
Pela coivara*, o homem preparava a terra para o plantio, enquanto que as mulheres semeavam e plantavam o milho, a mandioca, a abóbora e a batata-doce e cuidavam da colheita.
Por morarem na zona da mata da araucária, coletavam frutos, mel e sementes como o pinhão, além dos frutos silvestres, que eram carregados para aldeia em cestas de fibras vegetais, confeccionadas pelas mulheres.
No outono, o casal coletava o pinhão que, em estado natural ou transformado em farinha com pilão, era guardado seco e constituía a base de sua alimentação. A coleta do mel era comunitária, cada homem recebia uma vasilha de outra família. No fim da tarde, os homens se reuniam junto da aldeia, entrando todos ao mesmo tempo e entregando o mel à dona do pote.
A terra pertencia à comunidade e o território para a caça era demarcado, sendo organizada em grupo e realizada só pelo homem, tendo o cuidado de matar apenas os machos e mudar de lugar a cada dois anos. Os jês matavam quem entrasse armado em seu território de caça e por isso, reagiram contra os alemães e italianos que matavam os animais indiscriminadamente e por esporte.
Trabalhando com diversas fibras vegetais retiradas das florestas tornaram-se exímios cesteiros. As mulheres aproveitavam o material disponível na região, como as fibras vegetais usadas para confeccionar cestos (utensílios), o caraguatá usado para tecer túnicas a serem usadas pelas mulheres. Os homens usavam rochas, para fazer o machado, tacapes, além de ossos e madeira. Por isso também foram considerados “índios artesões”.
Os Gês puros portavam grandes arcos, longas lanças e bordunas* e por isso foram chamados de “ibirayaras”, que quer dizer “senhor do pau”.
Organizavam-se em dois clãs exogâmicos: o clã da lua era de guerreiros e o clã do sol, dos caçadores que utilizavam enormes tacapes. O clã da lua dividia-se em duas metades: votoro e canheru. O clã do sol também era formado por duas metades: aniqui e camé. O pai escolhia o clã da criança a fim de manter o equilíbrio entre os clãs, necessário para o ritual religioso. O casamento devia ser feito com pessoa de outro clã. Admitia-se a poligamia* e, por vezes, a poliandria*. O pai era considerado o único responsável pelo nascimento do filho e fazia couvade ou choco*, quando este nascia.
O grupo realizava o controle social punindo o homem faltoso com a expulsão temporária da choça comum ou designando-lhe tarefas femininas. A mulher faltosa era entregue a outro homem como punição. A mulher jê até hoje é mais agressiva que o homem, chegando a bater no marido, que não reage. Os jês cuidavam da limpeza corporal e enfeitavam-se com penas, penteados complicados, pinturas corporais. Os homens furavam o lábio inferior para o uso do tembetá* ou do “batoque”.
Eram dirigidos por um chefe feiticeiro. O pajé exercia diversas funções no grupo, tais como a política, a religiosa e a de cura, por isso, quando o grupo tinha de guerrear ou caçar aguardava as ordens do pajé, que consultava as divindades. Ao ganharem as batalhas, preferiam escravizar os inimigos e não matá-los.
As tribos Gês puros faziam aliança de guerra e o cacique que pretendia a aliança mandava o Hieroquara* visitar as tribos levando um punhado de flechas. Chegando à aldeia que devia visitar, o Hieroquara dançava diante do chefe e ao final da dança lhe oferecia uma das flechas. Se o chefe a aceitasse, estava selada a aliança.
Muitas vezes o Gê puro fez pacto com o bandeirante para combater o jesuíta espanhol, a quem odiava. Segundo Antônio Augusto Fagundes, há informações de que o ibirayara praticava a antropofagia ritual, o que, provavelmente, seja falso.

Pouco se sabe sobre a vida espiritual dos jês. Eles acreditavam em “Maré”, deus criador e civilizador. Consideravam o sol e lua como protetores da colheita, da puberdade e da procriação. Praticavam o ritual da morte, cada aldeia tinha seu cemitério. A almado morto era chamada de “acupli” e podia encostar-se em alguém e trazer-lhe doenças e até a loucura. Enterravam seus mortos em posição fetal num buraco (fossa) protegido por lajes de pedra ou ramos de árvore, sem contato com a terra e junto com vasilha de água, armas e seus cães, que eram sacrificados. A sepultura era coberta por um monte de terra e sobre ela colocavam um pote de bebida e acendiam uma fogueira, com fogo baixo, que os parentes cuidavam para não apagar.
Os homens usavam uma cinta larga, em volta dos quadris, formada de cordões das fibras de tucum ou da urtiga brava. As mulheres usavam uma espécie de matos de fibras vegetal e seu arauto*, o Hieroquara*, foi descrito usando um colete de pele de anta. De resto andavam nus da cabeça aos pés.

Os Jê foram resistentes à tentativa dos padres jesuítas de torná-los cristãos, bem como a que seus domínios fossem povoados, enfrentando os grupos humanos europeus, portugueses, alemães, italianos, poloneses, durante muito tempo, até por volta de 1850. Assaltavam as casas dos povoadores e tropeiros que desciam a Serra Geral. Nestas viagens, a única defesa dos brancos era o próprio animal, a mula, que sentia a aproximação dos índios, empinava as orelhas, assoprando e recusando-se a prosseguir o caminho.
Os assaltos dos indígenas as moradias dos pioneiros e aos tropeiros motivaram o surgimento dos bugreiros*, provocando o vazio demográfico nas trilhas das tropas de gado. O mais famoso bugreiro foi José Domingos Nunes de Oliveira, do Mato Castelhano, no atual município de Passo Fundo.
Os jês foram dizimados pelas epidemias de origem européia e africana, pela ação dos bandeirantes e bugreiros nos séculos XVII e XVIII e depois pelos Povos das Missões, que incorporaram alguns. Poucos chegaram a te nós.
Levas de índios, corridos pelos cafeicultores de São Paulo, chegaram ao RS, no século XIX, ocupando as matas do rio Uruguai. Novamente, foram dizimados pelos brancos, pois suas terras foram divididas e entregues aos imigrantes europeus (italianos – 1875), que contrataram bugreiros para eliminá-los, pois precisavam ocupar as terras, que haviam comprado do governo.

CAINGANG
Em 1882, Telêmaco Morocines Borba agrupou os descendentes dos índios Jê, ou seja, todos aqueles que não eram descendentes dos guaranis, denomindo-os de Caingang, que significa “moradores do mato” (Kaa = mato, ingang = morador), em 1882.
Ainda hoje, há indígenas Caingang (Kaingang) no RS. Com o passar do tempo, muitos de seus costumes sofreram adaptações. As mulheres têm posições iguais a dos homens e participam da vida do grupo em geral e até dos negócios.
O Caingang tem grande conhecimento da vegetação, que é transmitido de geração a geração. Conhecem tanto o valor nutritivo das plantas quanto seu uso medicinal e gostam de comidas tradicionais, como o pixé* e a “comida do mato”, verduras desconhecidas por nós como o fuá, o purfé, o cumin, etc e tomam chimarrão. Em sua habitação, o fogo de chão é conservado aceso.  Quase nenhum traço da cultura Jê passou para a nossa cultura. Houve, porém acentuada miscigenação nos toldos.
O Caingang é o único grupo sobrevivente da família Jê e ainda conserva muitos de seus traços culturais. Cultiva antigos valores que podem nos servir de exemplo: o respeito à terra, à criança e ao idoso; a distribuição democrática do poder com a escolha dos caciques pela comunidade. Atualmente, habita as terras situadas no norte e nordeste do RS, nos atuais toldos de Guarita, Inhacorá, Tapejara, Cacique Doble, Santo Augusto, Nonoai, Erechim, São Valentim, Miraguaí, Ligeiro, Carreteiro, Água Santa e Votoro. Muitos deles vivem fora das reservas.
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Glossário:
Intuir*: concluir por intuição
coivara*: queima de ramagens para limpar o terreno e as cinzas serviam para adubar a terra e finalmente ocorrer o plantio.                                                                                              
bordunas*: cacete de madeira usado pelos índios jês.
poligamia*: tem mais de um cônjuge ao mesmo tempo.
poliandria*: vários homens casam-se com uma mulher ou têm posse dela.
couvade ou choco*: dietas e repousos após o parto.
Tembetá ou batoque*: objeto não flexível que os índios introduzem num furo praticado no lábio inferior.
Hieroquara*: mensageiro de guerra entre os índios jês.
acupli*: alma do morto
arauto* : pregoeiro, mensageiro de paz, de guerra.
bugreiros*: profissionais que recebiam pagamento por índio morto.
pixé*: um pão assado nas cinzas feito de farinha de milho


segunda-feira, 14 de abril de 2014

OS ÍNDIOS DO RS – 19 de abril – dia do índio

A porção da América, que atualmente constitui o RS era, à época, uma larga faixa de terras a despertar o interesse de Portugal e Espanha. O que se sabe, então, é fruto de navegações arriscadas ao longo dos baixios do Atlântico e raras penetrações por terra. Por isso, as notícias sobre o gentio são confusas, mas os cronistas nunca deixaram de salientar que os índios desta região não erão afeitos a comerciante humana e que naturalmente, para eles, os cronistas da época, era muito importantes.

Os índios foram os mais remotos habitantes da terra. Quando os portugueses chegaram ao território rio-grandense, encontraram grupos humanos vivendo em plena pré-história, pois desconheciam a escrita (ágrafo) e não se fixavam muito tempo num só lugar, sendo seminômades. Eles aproveitavam os recursos naturais dos lugares onde habitavam apenas para viver, mantendo assim um equilíbrio com a natureza. As terras, as matas e os rios eram suas riquezas.

A mesma tribo aparece com nomes diferentes e muitas vezes o que se pensa ser uma tribo é meramente um simples ramo da mesma parcialidade. Naturalmente, sobre os índios, só se conhece após a chegada do branco, que escreveu os primeiros relatos sobre a terra e sobre quem nela morava.

Como vivia o índio antes do branco chegar, só pode-se intuir* por aquilo que o branco aqui encontrou o que certamente não é válido para a distribuição geográfica das tribos.
Falavam diversas línguas, porém a que se tornou mais conhecida foi a tupi-guarani, usada pelos moradores do litoral, com quem os portugueses tiveram o primeiro contato. Por isso, muitos nomes de lugares, plantas e animais são de origem tupi-guarani.

O índio habitante do interior tinha usos e costumes um tanto diferenciados do índio do litoral. O do interior usou a pedra lascada, o arco e a flecha e era nômade, devido sua alimentação ser baseada na coleta de frutos, raízes e caça de aves, enquanto que o do litoral tinha uma vida mais sedentária, já que a sua alimentação era encontrada com mais abundância, proporcionada pelo mar, principalmente mariscos, conforme evidenciamos nos sambaquis, constituídos de grandes acúmulos de restos, de detritos de conchas, ossos de animais, enterros humanos, instrumentos, que são encontrados no litoral marítimo. No RS, os sambaquis foram encontrados na barra da laguna dos Patos.

Uma das primeiras descrições foi realizada por Pero Lopes de Souza, em 1532, referindo-se como “musculosos e grandes; dormem no campo, onde anoitece; não trazem consigo outra coisa se não peles e redes para caçar; trazem por arma um pedaço redondo, de pedra, do tamanho de uma bola (...). Não comem senão carne de pescado”.

Os índios distribuíram-se pelo território e ocuparam áreas de diferentes paisagens naturais. Eram tribos atrasadas, que não deixaram sinais de desenvolvimento apreciável; não foram encontradas manifestações artísticas sob qualquer forma. Somente depois da ação jesuítica, desenvolvida no oeste do Estado, foram encontrados índios com algum desenvolvimento mental capaz de lhes permitir manifestar pendor para a música, pintura e ofícios elementares, bem como revelar certos conhecimentos agrícolas mais desenvolvidos.

Na época em que os portugueses aqui chegaram, encontraram as terras rio-grandenses ocupadas por 300 mil índios pertencentes a três antigas etnias (raças), cada uma com vários grupos, alimentando-se da caça, pesca e coleta de alimentos, alguns praticavam a agricultura rudimentar. Eram livres, amantes da natureza, organizavam-se em grupos ou nações e cada nação estava formada por diversas tribos (comunidades).

As expansões espanholas e portuguesas e a história dos indígenas articularam-se de maneiras diferentes. No oeste, os missionários ergueram reduções com o objetivo de transformar o território em terras da Espanha.

Nos séculos XVII e XVIII, os europeus foram gradativamente ocupando as terras indígenas. Esse contato levou à dizimação ou à perda da identidade cultural dos nativos, que eram obrigados a abandonar muitos de seus usos e costumes para assimilar os padrões dos brancos.

Os bandeirantes buscavam mão-de-obra para o cultivo da cana-de-açúcar e deixaram um rastro de sangue e de contágios de doenças européias e africanas entre os nativos Jê e Guarani. Na região da campanha, o Pampeano foi aproveitado como soldado e peão. Em 1680, foi abolida a escravidão do índio no Brasil e no RS.

As principais comunidades indígenas habitantes das terras gaúchas estavam constituídas em comunidades denominadas Jê ou Tapuia, Pampeano e Guarani.




Floclore Religioso

Quaresma: entende-se pelos quarenta dias, a contar da Quarta-feira de Cinzas do Carnaval até a Quinta-feira Santa, nos quais a igreja convida a todos para fazer uma conversão, isto é, uma mudança de vida, para celebrar melhor a Páscoa. A igreja fixa 40 dias de preparação à Páscoa a partir de acontecimentos muito importantes na experiência do povo de Deus, no Antigo Testamento e na vida de Jesus Cristo. É um período especial de preparação para os dias que relembram e revivem a paixão, morte e ressurreição de Cristo.

A PÁSCOA ENTRE OS GAÚCHOS

Semana Santa: o Folclore, no RS, denota a Semana Santa uma importância muito especial. A referida semana tem apenas quatro dias, que são: Quinta-feira Santa, Sexta-feira da Paixão, Sábado de Aleluia e Domingo de Páscoa.  O RS é o chão brasileiro, que acolheu um grande contingente de povos de outras nações, o que faz do nosso Estado, um pago diferente dos demais da nação brasileira, pois registra o folclore de todas as comunidades, especialmente a teuto- rio-grandense e a ítalo rio-grandense, marcantemente em cada um dos dias da Semana Santa.

Páscoa: Além do português, em muitas outras línguas, a palavra Páscoa provém do hebraico Pessach e incorporou-se ao mundo cristão, caracterizando o ciclo da Páscoa. Os cristãos de todas as partes do mundo celebram a Páscoa com grande alegria, em memória da Ressurreição de Cristo. Em muitos lugares, as crianças ganham doces e coelhos de chocolates e procuram ovos de Páscoa coloridos. O Ciclo da Páscoa aparece como um conjunto de elementos culturais espontâneos, sendo alguns deles derivados dos textos evangélicos e outros de conceitos populares europeus. O costume de se levar à igreja uma palma para que esta seja abençoada na Missa, no Domingo de Ramos, implantado no século VIII, por quase toda a Europa, tem como motivo determinante a festa eclesiástica. Muitos costumes ligados ao período pascal originam-se dos festivais pagãos da primavera.

    Outros provêm da celebração do Pessach, ou seja, da Páscoa Judaica. Os espanhóis chamam a festa de Pascua, os italianos de Pasqua e os franceses de Pâsques. Sobre sua origem, não se encontra dados absolutamente concretos, mas em todas as versões, lendas e tradições destacam-se, como ponto comum, a comemoração do próprio fenômeno da vida. Independente de sua origem ou credo, todos os povos celebram, nesta época do ano, a alegria e a esperança, implícitas no ato da renovação. Para os povos cristãos, a Páscoa tem um grande significado humano e divino e o homem moderno, parte integrante e receptor de todas as influências, quer pagãs, cristãs ou folclóricas comemora a Páscoa como uma tradição.

      A proibição de repicarem os sinos sugere recolhimento no período que medeia entre a Morte de Cristo e sua Ressurreição. Surgem então as matracas de diversos tipos à semelhança dos cristãos que batiam pedaços de madeiras nas catacumbas, por falta de sinos.

       Em Soledade, o fato folclórico ainda vigente é as “recomendações” ou “encomendações” das almas, que apresentam algumas semelhanças com outras regiões do Brasil. São realizadas por um “terno”, ou seja, por um grupo de pessoas com a finalidade de rezar, cantar, batendo matracas e pedindo orações para as almas. O ritual é iniciado nas sextas-feiras da Quaresma, principalmente, na Sexta-feira Santa.
      Em Pelotas, ainda se conserva a tradição do “Stippe”(stipa) – serenata da Páscoa, com grupos que, à semelhança dos Ternos de Reis, saem às ruas nesta época.
       Em Santana do Livramento, centenas de pandorgas elevam-se no ar, consistindo em uma tradição, desde 1976, oficializada como Festival Internacional da Pandorga.

       Muitas crendices, relacionadas ao ciclo, dentre elas:

  • a mais popular é a de colher “macela”, às vésperas da Sexta-feira da Paixão, pois, a partir da meia-noite até antes do alvorecer, a macela fica benta, retendo propriedades terapêuticas.
  • simpatias para curar asma possuem mais eficácia se feitas nesse dia.
  • não se tira leite das vacas, no Planalto e nas Missões.
  • cobras e aranhas são mortas, para se receber indulgência na zona da Campanha.