PAMPEANO
O grupo dos pampeanos esteve constituído
pelas parcialidades dos Charruas, Minuanos, Guenoas, Yarós, Guaicurus, Chanás,
Mboanes. Ocupavam o sul do RS, na região da Campanha; o sul do rio Jacuí e
Ibicuí, entre os rios Quaraí, Jaguarão, Camaquã, Serra do Herval e parte sul do
litoral (lagoa Mirim e Mangueira), além dos atuais territórios das Repúblicas
do Uruguai e Argentina. Dentre eles, os que mais se destacaram foram minuanos e
charruas.
Os Mbaias eram indivíduos altos, com costumes
e hábitos diferentes dos demais e inimigos tradicionais dos índios da nação
Guarani.
Os charruas eram escuros, quase negros e os minuanos
eram bem mais claros. Todos falavam língua quíchua. A menina Charrua recebia
listras coloridas na testa, quando entrava na puberdade e todos cortavam
artelhos em sinal de luto.

Por habitarem áreas de solo pobre, como
banhados, rios e lagoas, não muito apropriadas para o plantio, não eram
agricultores. Sua alimentação era à base de aves, peixes, caranguejos, mariscos
e crustáceos encontrados nos banhados, da coleta de frutas e uma espécie de
cebola nativa.
Por serem nômades, não tinham aldeias fixas e
vagavam de um lugar para outro, levando consigo as mulheres e filhos. As
mulheres iam a pé carregando tudo que pertencia à família. O homem seguia
perseguindo caças como preás, lebres, tatus, aves aquáticas, para a
alimentação, além de onças, veados, emas, que também eram usadas como meio de
transporte. Na caça, usavam boleadeiras*,
com a qual desenvolveram a prática de laçar, fato que explica serem eles,
posteriormente, exímios cavaleiros e preadores de gado. Pescavam com rede e com
flechas. Suas armas eram arco, flecha, lança, funda. Na guerra, usavam lanças e
por isso foram excelentes lanceiros.
Como viviam em áreas de temperaturas baixas,
com invernos rigorosos, inventaram uma espécie de poncho* para se abrigarem do frio. Eram hostis aos demais povos
indígenas e faziam sinais com a fumaça, compreendidos pelos seus guerreiros
espalhados pelo pampa gaúcho.
Os homens costumavam enfeitar-se mais que as
mulheres, adornando-se com tatuagens, pintura corporal e batoques*, cabelos longos e presos com vinchas ou ainda trançados.
Os pampeanos abrigavam em seus toldos
foragidos, desertores e contrabandistas de origem portuguesa ou espanhola, não
se dando importância às suas chinas (mulheres) se unissem a eles, mesmo
temporariamente. Esses costumes facilitaram a formação do grupo social chamado
de gaudério ou gaúcho. Moacyr Flores afirma: “o adultério não existia, pois o marido não se importava com quem a
china (mulher) tivesse relações” (IN: História do RS, 7ª ed. 2003,
pág.14.). Trocavam a mulher por qualquer objeto.
Praticavam a poligamia e quando a mulher
envelhecia, tomavam uma mais jovem. Segundo Moacyr Flores, “o adultério resolvia-se com uma briga ou
discussão entre os homens” (in: História do RS. 1986, pág.8).
As mulheres pampeanas desempenharam um papel
de feiticeiras, pois acreditavam curar doenças chupando a pele do doente nos
locais doloridos. Acreditavam que toda pessoa tem um espírito guia, que se
revela após longo jejum. Em sinal de pesar, as mulheres pampeanas cortavam as
falanges dos dedos das mãos e guardavam luto por 10 dias.
Em 1620, padres jesuítas começaram a
atravessar o rio Uruguai, tentando catequizar os índios Guarani e parcialidades
Pampeanas, mas estas não aceitaram viver em reduções.
Em 1680, os jesuítas tentaram formar um
povoado com os pampeanos no RS, denominado Santa Maria dos Guenoas, que seria
mais um dos Sete Povos e não deu certo, tendo sido anexada ao povo de São
Francisco de Borja.
A vida de caçador, as faltas de organização
comunitária mais complexa e de afinidades religiosas dificultaram o aldeamento
dos pampeanos sob a forma de missão.
A partir do contato com os padres
missionários, o cavalo introduzido em 1607 e o gado a partir de 1634 além das
frentes de povoamento, o índio pampeano modificou seu hábito alimentar e a sua
cultura.
Deixaram a coleta, tornando-se exímios
pastores, temíveis cavaleiros armados de longas lanças ou com as boleadeiras,
grandes amigos dos portugueses na préia do gado e nas guerras.

No inverno, o índio pampeano passou a se proteger do frio e do vento Minuano, com um couro sobre as costas, tipo capa, que cham
Como inimigos tradicionais dos guaranis das
Missões, os pampeanos tornaram-se aliados dos portugueses, ajudando-os na preia do gado e nas guerras, e foram dizimados pelos violentos ataques dos espanhóis,
que queriam a posse das terras.
Embora continuando com a caça tradicional,
passaram a alimentar-se de bovinos e cavalares. Quando retornavam ao rancho, ia
logo se deitar e a mulher desencilhava o cavalo, trazia a lenha e cozinhava a
caça.
Portugueses e espanhóis passaram a ocupar as
terras onde viviam os pampeanos, com fortalezas, vilas e estâncias, tais como:
Colônia do Santíssimo Sacramento (1680), San Felipe de Montevidéu (1726), Forte
Jesus-Maria-José – São Pedro do Rio Grande (1737), centros de onde partiam os changadores*, gaudérios*, patrulhas
militares*, desertores* e
povoadores de terras vizinhas. As estâncias missioneiras, de espanhóis e de
lusos, expandiram-se nas terras onde viviam os índios pampeanos, os quais
passaram a reagir violentamente, atacando as povoações espanholas de Santo
Domingo Soriano, San Salvador e Víboras (nenhuma no RS), saqueando as estâncias
em busca de cavalo, erva-mate e fumo, além de raptarem as mulheres e crianças
para servi-los.
Empurrados pelas frentes de colonização em
direção às cabeceiras do rio Negro e para a região entre Quaraí e o Quequaí, os
Charruas se uniram aos Minuanos no início do século XVIII. Em 1705, na guerra
dos Guenoas, os índios das missões quase os exterminaram. Em 1811 e 1820, charruas
e minuanos participaram como soldados das tropas de José Gervásio de Artigas.
As constantes campanhas dos espanhóis contra as chamadas nações bárbaras,
denominada de “la guerra de los charruas”, destruíram a população indígena da
Banda Oriental do Uruguai. Em 1832, o presidente Rivera ordenou o massacre dos
últimos charruas reunidos na povoação de Bella Unión (Uruguai, vizinha do
município da Barra do Quaraí). Nesse ano, os remanescentes dos charruas e
minuanos refugiaram-se no lado sul-rio-grandense, incorporando-se às tropas de
Bento Manoel Ribeiro ou peões das estâncias.
O
índio pampeano não mais existe, mas a eles devemos muitos dos usos como o das
boleadeiras, do chiripá, dos costumes campeiros, o assado da carne em brasas e
espetada num pedaço de pau. Também mascavam fumo e tomavam chimarrão. Muitos vocábulos
como china, chiripá, cancha, poncho, guacho, charque, chasque, guasca, guampa,
pampa, mate, xiru, vincha, inhapa, guaiaca, lechiguana, tambo...
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Glossário:
boleadeiras*:
instrumento
usado pelos campeiros para apreender os animais e inimigos nas guerras. É
formada por bolas de pedras redondas, retovadas ou não (forrada com couro),
sendo tradicional o uso de boleadeiras composta por uma só bola de pedra,
chamada de “bola louca”. O objeto era arremessado pelo índio num tiro certeiro
para capturar a presa. Mais tarde, o instrumento foi aperfeiçoado e apareceram
as versões de duas e de três bolas amarradas por tentos ou cipó. Duas das
pedras tinham um mesmo tamanho e uma delas era menor, chamada manicla, ligadas
entre si por cordas trançadas ou torcidas, de nome sogas.
poncho*: espécie de capa
feita de couro do animal. Atualmente, é uma capa de pano de lã, de forma
retangular, ovalada ou redonda, com uma abertura no centro, por onde se enfia a
cabeça.
batoque*: rodela que os índios
introduziam nos furos dos lábios, também chamado de tembetá.
Caiapi*:
manto
de couro cru bem sovado, com o pelo para dentro e o carnal para fora, sendo
pintado de listras vermelhas e azuis, usado pelo Minuano.
Quiliapi*
ou toropi*: mano
de couro cru bem sovado, com o pelo para dentro e o carnal para fora, sendo
pintado de listras vermelhas e azuis, usado pelo Charrua.
Chiripá*:
couro
enrolado à cintura, tipo saia, usado pelo Mbaya. Atualmente, é de algodão ou
baeta (lã), nas cores verde, vermelho ou azul; de comprimento cobrindo o
joelho, com abertura no lado esquerdo.
changadores*: espanhóis que
coureavam todo gado que podiam. Traziam
cavalos, atravessando-os em balsas pelos rios, acampavam em grupos de 30 a 40
homens, chefiados por um capataz. Matavam o gado e tiravam-lhe o couro, que,
depois de bem limpo, deixavam secar estaqueados em paus. Com o passar do tempo,
passaram a aproveitar também a graxa ou sebo do gado para vender. A carne era
abandonada aos urubus e aos ferozes cachorros-chimarrões.
gaudérios*: aventureiros
paulistas e lagunistas apropriavam-se do gado xucro para explorar o couro e a
graxa. Mais tarde, foram trabalhar nas estâncias de criação de gado que se
estabeleceram nos campos da campanha
patrulhas
militares*: os
campos do sul eram áreas pretendidas pela Espanha e Portugal. A partir de 1803,
Portugal passou a enviar patrulhas para vigiar os campos, as quais iam do rio
Uruguai até o rio Quaraí.
desertores*:
militares
que abandonaram a milícia sem licença. Pessoas que fogem ao dever ou ao serviço
assumido.
Muito bom! \0 Sobre os Charruas, tinha uma figura que morou no Parové, conhecido por João da Silva ele foi abandonado na macega por um grupo de índios que estavam de passada pelo Durasnal. Meu tataravô Balduíno adotou ele. Depois de "grande" ele duelava com os Jacarés na Lagoa do Parové. Muitas vezes atravessou a lagoa a nado e gineteou nos "Cavalos Marinhos", dizem que a Lagoa tem uma conexão com o oceano e que no verão os cavalos passam por ela. tem vários relatos das façanhas dele. Parabéns pela postagem!
ResponderExcluirGostei dos "Cavalos Marinhos"!!!!
Excluirnao consegui ler tudo
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Este comentário foi removido pelo autor.
Excluirnossa essa historia e legal
Excluirkkkkkkkk
Muito bom o recorte histórico.
ResponderExcluirAí puto
ResponderExcluirMuito grande ok se vcs pudesse diminuir eu agradesso viu.
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